Como já disse em alguns textos, estou em constante autoanálise, pois sempre achei isso importante, até porque em algum momento, enquanto criança, percebi que pessoas ao meu redor reclamavam dos outros em atitudes banais que os mesmos também faziam. Claro, está sendo a minha escola, foi o que aprendi e assim também estou neste pacote, mas desde então comecei a observar muito que as pessoas falam dos outros se esquecendo de olhar para si e para as próprias atitudes sem sequer analisar de fato o que fazem. Pode parecer um discurso chato, repetitivo e cansativo, mas ele tem que ser feito. Querendo ou não, quando reclamamos da vida, temos que entender e interpretar os sinais que mandamos para fora do nosso umbigo para compreendermos se o que estamos recebendo é condizente com aquilo que está sendo enviado. Acontece que, para mim, a crença do Universo como fonte do poço de energia da qual podemos pedir e "receberemos" em retorno é retratada com a condição de que no fundo as pessoas que nos cercam são responsáveis, consciente ou inconscientemente, em ajudar nisso. Quando tratamos bem aquelas que ali estão para receber aquela energia, elas nos encaminham para um caminho aonde as coisas que desejamos sejam possíveis e desejáveis. De um jeito ou de outro, fazer bem, ou fazer o bem, é algo que é de fato humano.
Curiosamente, um bom exemplo disso é o fim das relações. Geralmente, esses fins acontecem de forma que várias coisas estão colapsando ao mesmo tempo, seja interna ou externamente. Assim, sem muito tempo para poder refletir com calma e carinho sobre essas coisas, as pessoas descontam, dentro do seu super mar de movimentos, naquela pessoa que teoricamente estaria ali para um apoio e esse apoio não é encontrado. No fim, temos a velha questão de que em 99% dos casos, todo fim revela um grande babaca de cada pessoa. Até porque temos tantos sentimentos sendo colocados em frangalhos que no final disso tudo melhor lidar com apenas o nosso buraco, do que com os vários buracos alheios. Afastamos-nos, cortamos relações e movimentações e, em especial, nos tornamos extremamente frios ou repulsivos às coisas daquela pessoa que tivemos uma relação e uma grande intimidade por tempos e nisso nos perdemos bastante. Como não aprendemos a lidar com fins, quando ele vem, muito de nós se perde em confusão. Dor, raiva, amor, saudades e medo se confundem de forma tão primitiva, que parece que tudo é um só pacote de sensações e sentimentos. Nisso, nos afastamos e aquela pessoa gera tantos movimentos a nós que praticamente a culpamos por todos os erros, problemas e processos em nossas vidas. Tolo aquele que não percebe, em algum momento, que muito veio de si e, com tudo o que foi dito, retorna ao começo.
Se ser alguém melhor para poder servir de ponto de mudança ao mundo ao nosso redor é saber lidar de forma compreensiva com as pessoas que estão ao nosso lado, que amamos, que construímos intimidade, e sabermos conversar e comunicar toda a nossa confusa movimentação emocional, mas também sabermos tratar a todos que nos recorrem e continuamente abaixarmos o nosso egoísmo para poder sermos mais conscientes sobre os alheios e suas dores e assim sermos mais prestativos, temos que saber o espaço que ocupamos com as nossas dores e nossos temores. Senão, nos tornamos monstros sociais e até mesmos rebeldes sem causa. Coloco uma frase que surgiu em meio a uma conversa com uma pessoa bastante querida "mas também estou meio acreditando que personalidades são fragmentadas demais pra explicações...", por mais que exista uma grande força que concorde em mim com toda essa frase, sempre acho que pode haver um grande respaldo racional para que mesmo sem explicações de nossas personalidades ou de fórmulas para como vivemos, ao menos um pouco de trilhos é interessante. E nisso, nos trilhos, é que podemos nos transformar naquilo que queremos exemplificar como possível, e assim quem sabe sermos mais humanos ou um melhor exemplo daquilo que almejamos como humanos. Porque, no fundo, ninguém sabe ao certo o que é ser um humano, mas sabemos que, ruim, não deve ser.