Thursday, September 26, 2013

Sendo Humano

Uma das frases soltas de grandes pensadores que adorei para minha vida é "seja a mudança que você quer ver no mundo", para mim, ela representa o que caberia a cada pessoa, o máximo de ser um bom humano, mas sabe de uma coisa, acho que preferia a meta pessoal de me tornar o super-homem aprimorado e sem o ponto fraco da criptonita.

Como já disse em alguns textos, estou em constante autoanálise, pois sempre achei isso importante, até porque em algum momento, enquanto criança, percebi que pessoas ao meu redor reclamavam dos outros em atitudes banais que os mesmos também faziam. Claro, está sendo a minha escola, foi o que aprendi e assim também estou neste pacote, mas desde então comecei a observar muito que as pessoas falam dos outros se esquecendo de olhar para si e para as próprias atitudes sem sequer analisar de fato o que fazem. Pode parecer um discurso chato, repetitivo e cansativo, mas ele tem que ser feito. Querendo ou não, quando reclamamos da vida, temos que entender e interpretar os sinais que mandamos para fora do nosso umbigo para compreendermos se o que estamos recebendo é condizente com aquilo que está sendo enviado. Acontece que, para mim, a crença do Universo como fonte do poço de energia da qual podemos pedir e "receberemos" em retorno é retratada com a condição de que no fundo as pessoas que nos cercam são responsáveis, consciente ou inconscientemente, em ajudar nisso. Quando tratamos bem aquelas que ali estão para receber aquela energia, elas nos encaminham para um caminho aonde as coisas que desejamos sejam possíveis e desejáveis. De um jeito ou de outro, fazer bem, ou fazer o bem, é algo que é de fato humano.

O que leva a outro ponto. Já percebeu que quando as pessoas estão em sofrimento, elas são bem babacas?

Curiosamente, um bom exemplo disso é o fim das relações. Geralmente, esses fins acontecem de forma que várias coisas estão colapsando ao mesmo tempo, seja interna ou externamente. Assim, sem muito tempo para poder refletir com calma e carinho sobre essas coisas, as pessoas descontam, dentro do seu super mar de movimentos, naquela pessoa que teoricamente estaria ali para um apoio e esse apoio não é encontrado. No fim, temos a velha questão de que em 99% dos casos, todo fim revela um grande babaca de cada pessoa. Até porque temos tantos sentimentos sendo colocados em frangalhos que no final disso tudo melhor lidar com apenas o nosso buraco, do que com os vários buracos alheios. Afastamos-nos, cortamos relações e movimentações e, em especial, nos tornamos extremamente frios ou repulsivos às coisas daquela pessoa que tivemos uma relação e uma grande intimidade por tempos e nisso nos perdemos bastante. Como não aprendemos a lidar com fins, quando ele vem, muito de nós se perde em confusão. Dor, raiva, amor, saudades e medo se confundem de forma tão primitiva, que parece que tudo é um só pacote de sensações e sentimentos. Nisso, nos afastamos e aquela pessoa gera tantos movimentos a nós que praticamente a culpamos por todos os erros, problemas e processos em nossas vidas. Tolo aquele que não percebe, em algum momento, que muito veio de si e, com tudo o que foi dito, retorna ao começo.

Se ser alguém melhor para poder servir de ponto de mudança ao mundo ao nosso redor é saber lidar de forma compreensiva com as pessoas que estão ao nosso lado, que amamos, que construímos intimidade, e sabermos conversar e comunicar toda a nossa confusa movimentação emocional, mas também sabermos tratar a todos que nos recorrem e continuamente abaixarmos o nosso egoísmo para poder sermos mais conscientes sobre os alheios e suas dores e assim sermos mais prestativos, temos que saber o espaço que ocupamos com as nossas dores e nossos temores. Senão, nos tornamos monstros sociais e até mesmos rebeldes sem causa. Coloco uma frase que surgiu em meio a uma conversa com uma pessoa bastante querida "mas também estou meio acreditando que personalidades são fragmentadas demais pra explicações...", por mais que exista uma grande força que concorde em mim com toda essa frase, sempre acho que pode haver um grande respaldo racional para que mesmo sem explicações de nossas personalidades ou de fórmulas para como vivemos, ao menos um pouco de trilhos é interessante. E nisso, nos trilhos, é que podemos nos transformar naquilo que queremos exemplificar como possível, e assim quem sabe sermos mais humanos ou um melhor exemplo daquilo que almejamos como humanos. Porque, no fundo, ninguém sabe ao certo o que é ser um humano, mas sabemos que, ruim, não deve ser.

Thursday, August 29, 2013

Umbilical

Nasci sem qualquer habilidade especial e, hoje, digo isso do jeito mais libertador de todos. Não pense que me faço de vítima frente a tal afirmação, simplesmente aceitei a minha condição e isso se tornou extremamente libertador. Por anos me culpei por não ser um bom desenhista, compositor, baterista ou escritor. Sofri por não ter qualquer habilidade além do comum, em meus movimentos sexuais, meus momentos afetivos, meus momentos de leitura ou minhas teorizações tão insistentes. Já abdiquei de sonhos por perceber que não seria capaz de replicar aquilo que, talvez, minha família insistisse tanto... Por isso, tão libertador.

Antes mesmos de nascermos, todos estamos conectados, acolhidos e apegados. Mães e pais projetam, falam, comunicam a nós e ao mundo o que desejam transferir, ensinar e passar para seus filhos (nós, no caso). Todos passamos por isso, todos estivemos nisso, todos podemos repetir isso, mas quando de fato colocamos as coisas em ordem disso, no fundo, nunca saímos dessa relação. Nascemos e nos distanciamos realmente daquele calor, logo nos cortam o cordão umbilical, mas não deixamos de estar conectados e apegados àquela ideia tão feita sobre como reproduziríamos o todo do ensinamento que, antes de sentirmos o primeiro vento penetrando nossos pulmões, foi planejado. Nisso, vivemos com uma mistura em vida tão complexa e paradoxal que acho que por algum motivo, para mim, está associado ao nosso umbigo. Por isso, somos criaturas tão umbilicais e acho, agora, que se Adão e Eva não tinham umbigo a sorte era essa. Saber que ao olhar para sua barriga, não há qualquer sinal, furo ou lembrete da dor que é existir e ao mesmo tempo do orgulho que se deve ter daquele vale que coexiste com a massa da barriga.

Orgulho porque vivemos tão maravilhados com o brilho que essa depressão produz que somos incapazes de entender o porquê ainda temos tantos de nós presos a isso. Assuma quando foi a última vez que saiu de casa e não reclamou que os efeitos das vidas de cada um pode afetar a sua, seja aquela pessoa que insiste em parar 5 minutos numa pressa emergencial numa vaga para deficiente ou aquele que simplesmente parece ignorar ou até se achar mais esperto as regras sociais de bom convívio. Existimos em uma clara auto-ilusão pessoal de cada quadrado que tende a favorecer sob qualquer micro causa ou desfavorecer sobre qualquer fator aquilo que temos ou conquistamos.
Agora, encarando mais a fundo essa profundeza abdominal, vemos que nosso umbigo representa um antigo laço da alimentação que a nós era entregue por nossas mães e que misteriosamente nunca deixou seu espaço, seja no físico de nosso corpo, seja no ideal de nossas mentes, afinal muitos vivemos presos a ele e talvez por isso, muitos ainda o mantenham coroado.

Há uma contínua masturbação com a relação dos umbigos, aprendemos muitas habilidades em vida, caminhar, escrever, ler, conversar, sentir, e todos estamos presos a elas. Mas quando as habilidades se tornam "premiadas" de alguma forma, por vezes, sob a ótica do portador é vivida uma síndrome de problemas dados ao poderio da nomeação à realeza destes. Problema todo esse porque o peso da coroa que se é capaz de carregar junto do umbigo é sempre dobrado ao espaço que ela ocupa. Por isso, a necessidade de que a coroa de cada brilhe mais que a coroa do outro. Assim, aprendemos a desqualificar aqueles que nos cercam e por aprendermos que precisamos nos afirmar e nos colocar frente aos outros, de qualquer jeito ou forma. Vivemos a desconfiar de elogios, a descreditar e sermos super exigentes conosco e a nos colocar numa malha de insistências tão profundas que temos dificuldade, inclusive, de tentar coisas diferentes para alcançar méritos já desconhecidos, mas desejados. Vemos e vivemos isso com tanta clareza que algumas pessoas existem, como que num eterno ciclo, presas a um único feito em vida, como se aquilo trouxesse à realidade, todo o poder para o qual tenha nascido, todo o porquê da alimentação e desconexão umbilical realizada. Nisso, há uma contínua batalha, porque o brilho da coroa dói, massacra e nos encara a uma realidade de que, talvez, melhor fosse que não houvesse ali o furo.

Na medida em que tento deslocar a minha coroa para fora do umbigo, vejo o quanto mais eu consigo admirar aqueles ao meu redor e todas as suas maravilhosas e únicas habilidades. Tenho amigos que são maravilhosos desenhistas, conhecidos de certa proximidade que cantam lindas canções, tocam de forma promissora, vejo amigos que começaram por uma piada a tocar bateria que se tornaram referencia. Tenho admirado as boas habilidades de negociação daqueles que me provam que, mesmo com toda a incapacidade de fala, se ajustam melhor que se falasse e justificassem tanto. Vejo minhas irmãs e minha mãe com todo o mar da inteligência que elas se embebedam e a capacidade com que absorvem aquela realidade e que, por vezes, se perdem, mas ainda na graça do que se provam a fazer. Consegui presenciar casais que me mostram diariamente, com toda a sua imperfeição, o quão conseguem se manter realistas, felizes e em conjunto. E da benção que é o meu convívio a gênios de realidades variadas e que conseguem manter uma habilidade social invejável e posso nomear a grande realidade que tenho buscado encarar de ver além de da minha coroa ou de meu centro e mesmo admirando tudo isso, vejo que não há qualquer habilidade que se sobressaia em mim, o que me torna um maravilhoso medíocre sobre aquilo que consigo existir. Afinal, nada mais normal que acessar o comum, permear o comum e se admirar em felicidade ao comum.

Como disse a uma querida pessoa, algo que tenho há dias pensado, "Temos vivido de forma tão rápida que a emergência com quem continuamos a ignorar as coisas pela nossa dor e nosso brilho umbilical, só nos leva a ficarmos perdidos." Talvez, a liberdade seja o desaparecer do umbigo e tornarmos mais cardíacos e menos umbilicais.

Friday, August 23, 2013

Inútil

Se existe algo mais inútil que a culpa, por favor, me mostrem. Sejamos realistas, ok? Passamos anos de nossas vidas presos a culpas nossas e alimentando culpas alheias, como desculpas para não vivermos plenamente as nossas coisas e nos movimentando sempre com algo relativamente faltoso. Acho que nunca, de fato, aprendemos a sermos nós mesmos pelo imenso tamanho da caixa que nossa culpa ocupa e para piorar tudo isso, a caixa da culpa está sempre cheia e com isso não percebemos que culparmos os outros são fugas dos derradeiros fardos de nossas próprias culpas, logo, a culpa para com os outros e a nossa, no fundo, são a mesma coisa.

Deixa-me tentar mostrar porque sinto e penso isso. Por anos, eu percebia (e ainda percebo) em muitos amigos, e até mesmo em mim, um grande processo de culpar os pais e as mães por muitos dos ocorridos em que se tinha uma clara dificuldade. Poucos de fato reconheciam valores a si e em seus pais, mas a questão de culpar a geração anterior se fazia mais ativa. Claramente, muitos reconheciam traumas de formas dramáticas e selecionadas para justificar alguns processos e, em especial, para colocar as dificuldades em cima de um pedestal do inalcançável ou do "alcançável-desde-de-que" o que ninguém ou praticamente ninguém reconhecia era o esforço para criar a si. Por vezes, acho que nos esquecíamos do posicionamento de não perfeição de nossos pais, para cobrar-lhes isso, esquecíamos mais ainda da nossa longínqua proximidade à utopia para cobrar isso de nossos pais e mães, mas sempre usávamos isso de escudo. Vivíamos com a sombra dos defeitos dos nossos (as) responsáveis e ainda nos achávamos o máximo de vermos isso e sempre terminarmos com o velho jargão da dotada arrogância adolescente e adulta, "jamais serei assim". O problema é que ao ignorarmos por completo a possibilidade de vermos isso em nós mesmos, mais replicávamos a culpa que colocávamos nas nossas mães e pais para frente e mais igual nos tornávamos.

Quem nunca namorou ou se relacionou de forma visceral ao arquétipo da sombra de algum (uma) dos (as) responsáveis que atire a primeira pedra. Ao crescermos, se vivermos sob a sombra dos nossos progenitores, não procurando mudar o ângulo de visão para encontrar criaturas equilibradas (pais e mães com defeitos e qualidade) tendemos a reproduzir de forma tão visceral que nem questionamos aquilo que está de fato sendo feito. A escola daqueles que nos criam pode parecer invisível a alguns momentos e até anos, mas ela é mais e melhor sedimentada que um bom professor de artes marciais que faz seus discípulos, inclusive, sonharem com seu mestre em momentos de dor. Se não observarmos com cautela, aquela culpa que a sua mãe sempre teve, sob seus olhos, por ter te colocado de castigo num momento errado, vai fazer você colocar de castigo outras pessoas ao seu redor por motivos tão errados quanto pelo simples processo de repetição. Enquanto sua mãe e/ou seu pai não forem humanos aos olhos que se dá a eles, com todas as possibilidades de erro, de acerto e de compaixão, as coisas permanecem difíceis, se sua própria arrogância de perfeição desejada for sempre maior, será aquele que carrega mais culpa, mais fardo para frente e o pior disso tudo é que essa culpa de nada vai servir na sua vida. Ela será sempre um enorme peso morto simplesmente sendo carregado com você a todos os lugares e, claramente, atrapalhando a vida.

Aprender a olhar para nossas mães e pais e reconhecermos neles a nós mesmos, com todos os defeitos e qualidades, cria possibilidades para nos tornarmos melhores adultos, assumindo de fato quem somos, o que temos e o que queremos. Incluindo nesse enorme pacote uma grande redução da nossa inabilidade em alguns feitos deles, que sem querer repetimos, mas que ainda temos o poder de não repetir. Assumir isso faz com que de fato reduzamos aquelas velhas "jamais serei assim" de um jeito mais consciente e menos birrento. Afinal, quando somos capazes de ter compaixão com os nossas mães e pais, avós e avôs, tios e tias, e quaisquer responsáveis, assumimos que muito do que foi aprendido não precisa ser repetido de forma impensada e que as dificuldades que eles, sem querer, passaram para frente e nós carregamos se tornaram outras. Assumir que culpar eles por suas dificuldades e por alguns possíveis traumas causados e que nossa vida não é de outro jeito não leva a lugar algum senão a dor e não reconhecimento de nenhum dos dois lados. Entretanto, assumir que podemos perdoá-los por não serem perfeitos como gostaríamos, que apesar de suas dificuldades podemos amar e abdicar do nosso traumático e infantil antigo reconhecimento, faz com que nossas cicatrizes sejam superadas por nossa própria força, afinal, ninguém quebra um padrão de repetição se não tem compreensão sobre o mesmo, encarar isso como adulto, sem culpa, faz sairmos desse padrão de erros mais antigos que os primogênitos dos nossos primogênitos.

Saibamos mostrar de um jeito diferente do aprendido para com as pessoas responsáveis, de forma carinhosa e não rancorosa, outras possibilidades de um mesmo antigo feito ou padrão familiar, torna o nosso feito mais valoroso e mais bonito. Torna nossa vida mais adulta, pertinente e menos reativa. Uma vida menos reativa é uma vida com mais energia sobrando, afinal, a culpa foi abdicada e toda força usada para carregar ela pode agora, de fato, ser usada de forma transformadora.

Wednesday, August 21, 2013

Para mim, eu.

Reconheço minha clara dificuldade em aceitar a realidade e também ao meu próprio espaço por simplesmente recusar a realidade. Estranho falar isso assim, mas há pouco tempo tenho aprendido que aceitar a realidade constitui de primeiro aceitar a si estando nela. De alguma forma, não aceitar estar nela me fazia encontrar muito de mim em um plano perfeito de existência que não me dava o real de mim.

Existe algo em nós que vai além do ego e por qualquer motivo que seja ou se sinta isso, é realmente gratificante. Acessar isso é realmente bom. Pense um pouco e se responda, quando foi a última vez que se sentir você foi algo que não lhe pareceu nem pedante e nem ruim?

Parece que atualmente ser a si é pedante, e de fato o é, se para isso precisamos impor ser isso. Se o próprio espaço, regras, limites e verdades necessariamente precisam ser maiores que a dos outros. Se a rejeição que continuamente é aplicada às regras dos outros são colocadas de forma prioritária para você se sinta bem. Se só e somente quando alguém acessa a vida da mesma forma que a estrutura de pensamento aplicada a esta, torna a pessoa boa ou realmente legal, caso contrário, ela simplesmente não é tão legal assim e talvez não muito merecedora do meu eu, do meu esforço e assim sendo da minha pessoa, aí sim, ser a si é pedante, é arrogante.

Mas para alguém ser a si pode ser extremamente ruim, opressor e de certa forma vergonhoso e não, não falo da questão desta ser necessariamente uma pessoa ruim, só que ela sente que gostaria de ser qualquer pessoa, que não ela mesma, por sentir que o próprio espaço, regras, limites e verdades sejam, de alguma forma, desnecessárias ou ruins, que verdades alheias sejam mais interessantes, que suas necessidades sejam apenas uma manutenção do espaço e que o mundo não reserve além de algumas pequenas migalhas para ela em nível de uma boa vida, rejeita a si e procura no mundo uma satisfação que talvez nunca venha, por não se querer de fato a satisfação.
Entretanto, para nós, o processo de ligação à realidade se dá muito na conexão do que vemos e de como vemos. Aprendemos que as pessoas que rejeitam aos outros de alguma forma, sabem bem o que querem e assim possuem uma boa autoestima, e aqueles que rejeitam a si tem uma má autoestima. Aprendemos isso quando vemos que algumas pessoas são simplesmente colocadas como de "gênio forte" e recebem por algum motivo um tratamento especial como se a estima delas valesse mais que a de outros e pessoas mais apáticas, pessoas que se questionam e questionam muito o espaço que as cerca, que rejeitam elogios por verem uma realidade diferente, são pessoas mais fracas e assim possuem uma baixa estima. O problema é que nisso criamos monstros sociais sempre presos a uma questão ilusória de "estimas" aonde, no fundo, pouco realmente é ensinado sobre isso. Aprendemos que uns nascem para serem fortes e outros para serem fracos e vivemos nessa grande guerra natural que de natural nada de fato tem. 

Esquecemos, ou talvez nunca aprendemos, que ser a si é saber que é possível ter espaço, ideias, pensamentos e jeitos, sem questionar o que o outro tem. Colocamos a nossa rejeição ou contra os outros ou contra nós mesmos e vivemos de forma que isso pareça ser aceitável. Ter espaço e ser a si é perceber que aceitar as diferentes ideias dos outros e trocar com os mesmos em nada constitui ter que mudar para mais perto ou mais distante daqueles ideais. Não existe a necessidade de impor nada e nem de rejeitar nada.
Passamos pela vida vendo e recebendo imposições, como se existisse uma clara superioridade entre uns e outros e um aceite dessa superioridade. Vemos pais, mães, chefes, namoradxs, amigxs que vivem nisso. Uns impõe a ordem, ser a si é um problema, e os outros aceitam. Só que esquecemos que se criarmos esse ciclo, sempre estaremos presos a ele. Porque se aqui se é superior, ali, pode-se ser inferior e para quem sempre se sentiu rei, sentir-se algo que não rei se faz perder muito daquilo que se conquistou e aí se volta a uma rejeição.
Aprendemos que espaço é aquilo que impomos sobre os outros, mas com qual finalidade? Ter nossos desejos atendidos? Não seria melhor ter os desejos atendidos num panorama de igualdade?

Nisso, no quanto eu consigo colocar o meu espaço, com segurança em mim, me sentindo bem e sentindo que consigo ouvir o outro, sem me mover a impor nada, tem estado a minha autoconfiança e minha estima. Ninguém vai viver pelas verdades alheias para sempre, as próprias tem que sair em algum momento e de alguma forma, acreditamos que quem gritar mais alto é quem vai ser o mais ouvido, ou quem espalhar mais rápido uma notícia será o seguido. Mas ambas as expressões não passam de um medo em crescimento com um pedido rápido e de forma opaca por aprovação externa, e não representa uma boa autoestima. Assim, como simplesmente aceitar a verdade externa com medo do conflito, medo de ser diferente e viver de forma a respeitar o mesmo ambiente, mas com pensamentos que podem ir à oposição (dentro do limite, óbvio). Começar a observar isso faz com que caiamos na nossa necessidade de ter aprovação para podermos seguir, mas porque essa aprovação pesa tanto, se todos somos dotados de poder de discernimento e se o respeito ao espaço do outro deve ser de um tamanho equivalendo ao respeito ao próprio espaço.

Para mim, o meu espaço tem ficado entre os perdões, o autoperdão e o perdão ao outro, considerando ainda que o perdão não fique entre a humilhação de assumir um erro e pedir por uma compreensão disso, e nem a necessidade de que preciso estar pedindo perdão para poder viver a vida e expressar minhas vontades. Respeitar as características (qualidades e defeitos) que cada um carrega é inclusive respeitar as características que se é e isso é autoestima, por não ser dotada de medo qualquer para guiar apenas o eu.

Friday, August 9, 2013

...do abdicar e do tempo.

Há muito tempo a sociedade conhece a história de agir em prol de um medo qualquer por uma certeza futura, e no final de tudo, de todo esforço e toda luta contra este medo, o futuro já aguardado se confirmar em certeza. O mito de Cronos deixa bastante exposta esta realidade.Cronos (mito grego, o romano virou Saturno) um titã que temia ser destronado e por isso devorava os filhos. Pelo medo de perder o suposto poder fez uma das coisas que, para sua esposa Reia e vários outros titãs/deuses, claramente representava uma atrocidade. Mas, como seu medo era maior, manteve-se na crença de que se agisse em prol dele, controlando ao máximo as variáveis que julgava ser possíveis de controle em relação a isto, acaba por ser enganado por Reia e Zeus, seu filho mais novo é salvo e trocado por uma pedra. Ao ponto que Zeus, ao crescer, se junta e destrona o pai. Nisto, percebemos com clareza que todo o medo e toda energia gasta por Cronos para permanecer com o seu poder foi exatamente o que fez com que este fosse destronado.


Afinal, se tivesse agido de forma racional e emotivamente coerente, teria trabalhado o medo e não agido de forma passional a ele. Relacionando-se com o presente, o mito ganha uma força adicional de, inclusive, percebermos que várias das histórias que se passam ao nosso redor são construídas com a mesma base. Veja, por exemplo, o episódio III de Star Wars e você verá que o nascimento do Darth Vader se faz com a clara percepção futura do medo de fazer a princesa sofrer e morrer. Quando Anakin age com toda sua força para evitar a visão que teve, é automaticamente transportado para ela. Assim, de tanto evitar, acabou causando.


Trazendo o milenar mito para a nossa vida contemporânea, vemos o quanto nada aprendemos mesmo com vários possíveis dicionários sobre alguns percursos da vida. Vejo diariamente, tanto em mim quanto em amigos, o quanto nos esforçamos em prol de um medo, acreditando que se ele for o centro da nossa atenção, não deixaremos que ele nos atinja, mas no final, estamos nos movendo em direção à ele. Tornamo-nos rápidos especialistas, alteramos nosso estado de ser e muito é movido contra e não a nosso favor, com isso, temos várias situações criadas a partir de nossos medos, tornando-nos nossos maiores monstros e com isso sofremos as consequências de sermos, mundo à fora, exatamente estes monstros, em sua forma crescida e alimentada e confusa. Muito do sentimento do medo acaba associado à própria identidade e esta pode estar sendo colocada em risco, na cabeça da pessoa. Nisto o abdicar entra como uma ferramenta de emergência sobre a situação da própria identidade e da situação. 

Da identidade, porque quando percebemos de fato o que somos e que no fundo estamos inseguros, nesse estado acabamos por realizar uma dor sobre nós mesmos e para dar a segurança de volta ao processo é necessário estar apto a perder. Esta perda, tem que ser de forma consciente, de forma a que você abdique por amor a si, assumindo que não precisa carregar o fardo da questão.


Da situação, porque muitas situações geradas pelo medo, são situações que levam as pessoas uma obsessão clara de que nada, pode sair do seu controle e qualquer coisa que aconteça, será ruim. Nisso desprende-se de muita para tender manter o tal "controle" em ordem e funcionamento. Por isso, pessoas que escolhem deixar as situações acontecerem e quando de fato são colocadas em conflito, seja por uma pergunta direta, seja por uma relação de entendimento trocado ou qualquer coisa que o valha, conseguem ter mais lógica de raciocínio, ao invés de simplesmente reagirem à algo detendo assim a capacidade de recriar ou criar de fato, a própria história. 


Criemos a possibilidade de refazermos nossos mitos. Imagine se Cronos tivesse a possibilidade de refazer. Provavelmente, teria sido um pai amoroso e dedicado poderia mostrar a relação de algumas questões de forma sincera aos filhos, mostrando que não é errado sentir medo, frustrar-se e qualquer além, poderia escolher abdicar o trono e passar a vez a quem julgasse ser mais íntegro dos que gerou. Afinal, combater medo com compreensão mostra o quão nosso coração ainda se mantém capaz de ser e mostra o quão ainda conseguimos acolher (a nós e aos outros) e esse acolhimento é o abdicar do controle do medo. E nada melhor para sairmos do nosso caminho de medo com um pouco de amor e acolhimento. Ninguém nunca será fraco por reconhecer e ter um medo (até porque todos nós temos), mas torna-se mais forte aquele que procura não viver por ele e mais ainda aquele que sabe a hora de abdicar para não chegar ao ponto final.

Como disse uma amiga: "Desapego do soltar, entregar, deixar ir, deixar partir, fluir, viver no presente, sem o peso do passado, sem expectativas para o futuro, saber de nossa finitude, saber que somos passageiros, sem posses, sem medos, sem culpa."


Wednesday, August 7, 2013

Do tempo e do abdicar...

Acredito muito que cada um de nós tenha limbo emocional. E chamo de limbo por ser aquele ponto que as coisas ficam escuras, perdidas e literalmente infernais sobre os próprios sentimentos que possuímos. Racionalmente temos a clara dificuldade de sair da espiral da dúvida e ainda acabamos, geralmente, trocando os pés pelas mãos. Nisso, várias situações que facilmente seriam resolvidas por uma fácil e digestível conclusão, se tornam novelas emocionais que mesmo, às vezes, durando algumas horas, pesam e doem como se durassem, literalmente, uma eternidade. Quanto a este limbo, acredito que cada um vá ter o seu e que pessoalmente devemos buscar formas de encarar isso.

Eu, por exemplo, tenho 2 limbos emocionais de percepção clara para mim. Um deles é quando encontro alguma mulher que considero linda (sim, tenho uma questão com beleza, me julguem), afetivamente e intelectualmente compatível. Primeiro, por achar raras as pessoas que aparecem assim em minha vida. Segundo, porque eu sou bastante pragmático ao me envolver afetivamente. Sei que sou extremamente sincero, especialmente com meus sentimentos, e por isso revelo de forma intensa e necessária aquilo que sinto, julgo isso como inocência, mas mesmo quando tento não ser tão inocente me sinto sendo falso e acredito que se aquela me leva a isso, melhor distanciar. Afinal, se não posso ser eu mesmo com aquela que ali se apresenta para mim, melhor não ter nada com aquela pessoa quem sabe, talvez, numa última instancia uma certa amizade. Até porque, convenhamos, depois de tantos anos me questionando tornou extremamente fácil ser cortante, mas extremamente difícil não ser aceito pelo que sou, ou de não viver algo na mesma forma emocional do que sinto.

O outro processo é o claro sentimento de rejeição que construí sobre mim mesmo. Talvez meu terapeuta pudesse falar melhor sobre isso, mas vivi uma vida aonde a seleção não era de fato minha, por algum motivo sempre me permiti ser escolhido (dentro de alguns cenários da vida) e aquelas escolhas por mim feitas se tornaram voláteis, não que não fossem importantes, mas que talvez o peso da escolha me desse mais responsabilidade sobre o processo de ter sido selecionado e esses cenários de fato são bem conhecidos por mim. Onde, claramente, se juntar o 1 com o 2, teremos um processo aonde essa união se cria de forma bastante drástica.

Você pode até se questionar, "por que alguém fala sobre isso tão abertamente?". Porque acredito que seja mais fácil você perceber a estrutura de si quando joga de forma aberta. Acredito que se alguém chegasse para mim e falasse que gostaria da minha amizade por ter tendências suicidas e que ao meu lado se sente confortável, eu aceitaria melhor aquela estrutura sobre todo o processo do que vivo, ao contrário de alguém que se mostra muito maroto e me deixa perceber de forma ativa defeitos com os quais não consigo conviver. Pode não parecer tão transparente, mas para mim é mais fácil aceitar o outro e respeitar quando este sabe de defeitos que carrega de forma bizarra, do que pessoas que vivem uma bolha da beleza, da economia comportamental e da própria dificuldade de aceitação. Por ser uma pessoa extremamente empática, acredito muito que quanto mais eu sinto a vida, mais sou capaz de sentir o outro. Afinal, quanto mais situações passo, mais fácil digerir ou compreender é aquilo que se vive. Por isso, o meu primeiro limbo emocional é tão complicado, porque poucas pessoas entendem ou vivem ou compreendem isso. Quanto ao segundo, que é muito mais palpável as pessoas serem rejeitadas, seja da forma que forem até porque ninguém ensina a lidar com isso de uma forma madura. Nossos primeiros traços de rejeição, seja pelo que forem, começam na infância e com isso a rejeição em si nos leva a esse ambiente tão conhecido.

Então, qual a grande situação disso tudo?

O grande processo aqui trazido é e sempre será do tempo. O tempo, esse mestre tão revelador e a tanto esquecido. Se você pensar com carinho, temos tempo para tudo, menos tempo para refletir sem estar em demanda com algo ou alguém para podermos apaziguar os nossos sentimentos e nos reconstruirmos dentro de um pensamento que está se tornando cíclico devido ao nosso próprio sentimento infantil sobre algo. Por vezes, meu tempo foi um múltiplo de sentar e conversar em várias situações com uma mesma pessoa que considerava tão empática quanto eu e que minimamente me falasse "eu faria isso" ou "você está fazendo isso, talvez seja melhor fazer de outra forma". Claro, que se ficamos muito tempo refletindo num vazio, fazemos desse vazio uma sala de tortura. Por isso, pessoas que estão de férias e em constante situação de não fazer nada sofrem. Sofrem por não darem um tempo para o próprio ciclo de pensamentos que é continuamente construído. E é aqui, para mim, que têm sido apresentados vários insights. Tomar uma decisão, mesmo que dolorida, cabe mais do que encarar uma realidade completamente composta e colocada sobre o meu limbo emocional. A nós, saber que o mundo tem seus movimentos de propósito, cabe a paciência, mas para o nosso ciclo de pensamentos infinito, não há tempo para se torturar. Então, paciência aqui não resolveria muito a questão.

Então, procurar encher a cabeça poderia ser a solução?

Não. Acho que a melhor solução é encarar o ponto da dor com o abdicar. Lembrar que não há situação que seja única e exclusiva na vida e que se for e você a perder, é porque aquilo não faz parte de você, não precisamos de nada que nos adoeça, seja psicologicamente ou seja fisicamente, e talvez realmente seja melhor perder, isso ajuda a lembrarmos que somos humanos, que não precisamos nos robotizar para sempre acertar, até porque na vida erramos muito mais que acertamos e vários desses erros se tornam os acertos que vemos como necessário para uma continuidade de um longo processo e é dentro dessas perdas, falhas e situações que encontramos, talvez, o movimento para tornarmos únicas e exclusivas algumas coisas...

Tuesday, August 6, 2013

Entre estilhaços e projetos...

Há dias eu tenho pensado em algo que me falaram. O curioso é que mesmo que eventualmente eu consiga me deslocar mentalmente para várias outras situações, quando o calor do momento se apaga, eu retorno ao pensamento sem qualquer outra forma de desvio. Chega a ser meio ridículo o quanto consigo ser obsessivo com algumas coisas e, para piorar a citação, ela é muito válida. A frase foi: "Você é o tolerante mais intolerante que conheço".

Por mais que inicialmente parecesse besteira e que a situação se mostrasse simples, ela veio de encontro a um grande momento de questionamento de algumas coisas para mim, sobre mim e o pior, é que me pareceu ser uma das frases mais sinceras que eu ouvi sobre alguma das minhas dificuldades.

Dentro de toda essa situação, percebi algumas coisas de comportamentos pessoais e de pessoas próximas que seus ápices se apresentam em paradoxos de personalidade que trazemos. Chega a ser engraçado, para não dizer trágico, o quão quebrados todos estamos e quão vivemos numa inteireza não existente. Não conseguimos assumir que possuímos sim uma quantidade de medos infantis e que vivemos sob o reflexo de todos, mas nos colocamos a um posicionamento certo, concreto e absoluto, na maioria das vezes, para falar de incertezas. 

Vivemos em busca de questões e desafios, de metas e de aventuras, mas, por vezes, tememos questionar ou abdicar delas, pela energia gasta, pelo orgulho do que foi criado ou por medo de não tentar ir ao máximo, como se toda energia que tivéssemos não pudesse ser desperdiçada.Entretanto, caímos nisso com um risco de várias coisas e que bom que estas existem. Porque elas fazem nós perdermos no nosso próprio processo e porque não dizer no nosso próprio jogo. Pensemos que quando nos determinamos a fazer algo existe apenas a direção e uma energia inicial a movimentar-se com "aquilo". Nisso, sempre travamos conceitos e batalhas contra os outros ou contra nós mesmos em busca de conseguir e conquistar aquilo que gerou essa movimentação inicial. Por vezes, vamos ter a recompensa de fato almejada, mas por outros momentos, talvez maiores que ter o que desejamos, teremos uma situação aonde "perdemos". Perda esta no nosso tabuleiro, nas nossas regras criadas, no nosso espaço escolhido, com a nossa melhor arma e por aí vamos... Esta se dá, em parte, por não unirmos um bom entendimento do projeto ao que planejamos de fato. Perdemos porque desejamos de um jeito estático, robótico, sólido e rochoso que faz parte do nosso desejo enquanto farelo e nisso ganhamos uma possibilidade que pode ir de encontro a uma boa análise clara e nada clássica, de onde observamos um padrão de investimento que temos, que vivemos e sentimos em nossa condição mais evidente enquanto humanos, é a da derrota. Não estou falando que somos derrotados ou sendo derrotista, mas quando estamos no chão, após uma derrota, fica claro ver que perdemos e ver que somos humanos. Basta assumirmos isso, somos humanos, podemos errar, podemos investir errado, mas posso ser um humano mais aceito da minha condição, ou um humano que está sempre num conflito disso, que faz muito ao sacrificar-se por seus próprios erros, por enxergar com tanta clareza toda essa dor e falha, tentar aprimorar na necessidade emergente disso e tornar toda dificuldade um monstro.

Aceitar o processo de que estamos numa grande guerra entre sermos nós, ou sermos um robô, que almejamos perfeição em várias das nossas escolhas, torna menos dolorida a questão de uma possibilidade de erro, e mais fácil o abdicar. Assim, fica mais fácil enxergar os estilhaços e viver de forma a se reconstruir do que de forma a viver como se fosse um inteiro que procura sempre uma forma nova, para poder tentar se reconstruir. É difícil acessar que por muito do que construímos a nós, vivemos numa infinidade de possibilidades de um mesmo quebra-cabeça e que não tem referências de montagem.Temos referência de quebra, porque ainda absorvemos e trazemos muito dos erros e acertos dos nossos pais. Mesmo que detestemos ou ignoremos isso. Aprender a enxergar a quebra de cada um auxilia a abaixar a cabeça e compreender que a nossa demanda por perfeição, de nós e daqueles que nos cercam, está alta demais e que precisamos nos humanizar. Precisamos criar as nossas referências, vermos melhor as quebras e chegar a um consenso, o de que muito se pode desde que projete a uma linha de permissão aonde o erro seja tão acolhido quanto o acerto, de forma que os medos não sejam guias, apenas ajustes. Precisamos aprender a ganhar de forma fluida e contínua o que seria uma derrota sólida e estática.

Saturday, August 3, 2013

Sofra

Períodos atrás, escrevi um post que falava muito da nossa natureza competitiva. Cheguei a citar sobre quando pessoas competem para ver quem esta sofrendo e/ou passando por desgraça de forma pior que o "outro”.

 

Há alguns dias tenho me atentado a algo curioso. Estamos tão carentes de nós mesmos que sofrer parece nos tornar mais merecedores de algo (seja isso o que for) ou, de alguma forma, isso parece ser um ensinamento que está lapidado em nossas mentes.

 

Alguém fala "nossa, estou triste", outro rebate, "mas, você tem tudo, como pode estar triste? Eu é que deveria estar, tenho isso e aquilo, estou numa pior".

No exemplo, fica claro que:

 

1 - Temos um grande prazer em negar os sofrimentos dos outros, como se não pudéssemos ter os nossos (o que torna justo aceitar o sofrimento do outro) e ainda por cima queremos enfiar de qualquer forma o nosso sofrimento, pedindo validação deste. Curiosamente, existe uma carta na manga que sempre me faz cair em realidade quando percebo que estou tendendo a fazer isso. Todos nós sofremos. Essa talvez seja uma das verdades que sustentem, para mim, o processo humano. Assim, isso quer dizer que devemos ter respeito e acolhimento com o sofrimento do outro até porque ao fazermos isso, o nosso sofrimento não é invalidado. Também, ao ouvirmos, podemos trazer luz para aquele que tem o emocional ligado à situação, trazendo a pessoa para outras direções, fator que torna o nosso (ou vários) ponto de vista importante. Além de que só de sermos capazes de legitimar o sofrimento quando nos dispomos a ouvir (que fique claro, sofrimento é diferente de drama) isso já ajuda em muito a pessoa ver que há vida além daquilo e que talvez ela esteja criando e intensificando muito o sofrer por não enxergar nada além.

 

2 - Esse segundo ponto é algo não tão claro. Todos sofremos, o que fazemos com este "sofrer" é o que realmente importa. Sejamos simples, todos, para crescermos, passamos por várias linhas e percepções da dor. Na infância, por exemplo, quando queremos muito um brinquedo não podemos ter por ser muito caro, frustramo-nos, esperneamos, mas nada fará, naquele instante, aquele brinquedo ser seu. Isto gera sofrimento, não importa se parece bobo ou infantil, ele é um sofrer. O que é feito depois que vai valer. Podemos espernear até nossos pais se irritarem e ganharemos castigos para "aprendermos" que o mundo não gira em torno de nosso umbigo. Logo, o sofrer se tornará maior. Pode-se espernear pelo castigo, fazendo este se intensificar. Em resumo, por insistirmos muito em algo que naquele instante é um "erro" tornamos o nosso sofrer uma imensa sombra de dor e desespero que,eventualmente, tudo se torna esse sofrer.

 

Entretanto, o mesmo sofrer se bem compreendido pode trazer as mais magníficas mudanças de percepção, atitude e de vida. Afinal, amadurecemos ou por amor (a nós mesmos) ou pela dor. Quando nos damos conta de que nosso sofrimento é um pedido (ou um chamado) por amadurecer é quando de fato estamos prontos para encarar da melhor forma aquilo. Tanto que sofrimentos presentes na infância que duravam em escalas infinitas, agora duram, se compreendidos e de vista consciente, apenas alguns minutos e rapidamente são transformados em outros pensamentos. Por isso, sofrimentos mais velhos ou mais profundos machucam tanto, por representarem um chamado de uma mudança de tempos remotos e longínquos que podem até habitar o esquecido de nossas mentes, mas jamais de nosso comportamento. Entretanto, temer o sofrer é temer inclusive boas mudanças, e aí, não há muito que reclamar (nesse caso é se vitimizar mesmo).

Wednesday, July 3, 2013

Quereres

Quando mais novo, ouvia uma repetida frase da minha mãe e da minha avó que era "meu filho, a gente quer quem quer a gente..." E por anos, essa frase me perseguiu.

Perseguição essa que se dava claramente pelo entendimento que se tem dessa frase, contra o comportamento expressado que muitos de nós vivemos.

Entenda, essa frase voltou à minha mente em uma recente discussão sobre "conquistas". Alegavam para mim, que quando queremos algo "difícil" temos que ser insistentes, para haver essa conquista.

Discordei o quanto pude e ainda discordo. Para mim, as coisas precisam ter um certo fluxo, como quando você começa um estudo e desse estudo milhões de ideias brotam e você tem memórias variadas de coisas associadas àquilo e assim por diante. Ou como quando você começa um projeto, que mesmo atrasado, parece que tudo flui tão bem, tão conexo, que não tem "problemas" enormes. Mas na verdade, lá no fundo, tem problemas, mas eles parecem tão fúteis ou solucionáveis, que não se tornam impeditivos. Parece que de certa forma aquilo/aquele te escolheu. Ou que de certa forma, houve uma paixão por aquilo e esta tendo correspondência.

Relacionamentos também deveriam ser assim. Mas ainda insistimos em "conquistar" o outro. Compreenda, para mim, a conquista é algo inerente ou facilitado, quando aquilo é também tomado por uma paixão a nós. Que fique claro, não estou tirando o mérito de um super atleta, que se dedica de corpo e alma a uma modalidade esportiva qualquer, até porque, para ele, deve ser a mesma coisa. Há uma paixão por aquele esporte que de alguma forma é correspondida.

Mas, voltando às relações, realmente acredito que elas acontecem. Quando há abertura em cada pessoa, para assumir o impacto emocional que cada um sofre. Também existe o revelar dos sentimentos, e, no final, existe a conquista. Pode haver empecilhos, mas de alguma forma, eles se tornam facilmente contornáveis.

Muitos ainda dizem que a relação tem que começar difícil para cada um valorizar a "conquista" e também para dar valor a quem esta se conquistando. Sejamos práticos aqui, se alguém sofre uma tremenda insistência de outro alguém para estarem juntos, essa pessoa pode simplesmente não perceber o tremendo esforço que há, daquele que clama (afinal pessoas apaixonadas perdem a dinâmica de força feita) e não dar um valor tão assim ou, pior ainda, aceitar entrar nisso pelo cansaço... Ainda acredito que essa relação tenda a uma não "diversão conjunta", talvez tão almejada. Apesar disso, concordo que muitos não dão valor quando as coisas vêm fácil. Mas se não der, não entra no esquema da conquista. A conquista em si tem a valorização daquele que mexe, não pelo tempo que mexe, mas pela forma. E também por isso, não há conquista falsa. Afinal, ela não perdura.

Sim, parece difícil de perceber quando há uma conquista, por ela não poder ser facilmente colocada em uma relação de 4 meses ou algo assim, seja com um estudo, com uma pessoa, por um projeto. Quando há conquista, há tempo, há abertura, há entendimento e há, talvez, o mais difícil, aceitação. E aqui, entra a grande citação da sabedoria de minha avó. A gente realmente só quer, ou só deveria querer, quem (ou aquilo) que nos quer. Tem haver uma reciprocidade. Querer quem não nos quer é igual a nadar contra a correnteza. Pode parecer um grande feito ao final, mas pode ser um afogamento virtuoso. Querer quem quer a gente sem o nosso querer, pode parecer fácil demais, mas se torna maçante e sem tempero. Por isso, aprendamos aceitação, aprendamos reciprocidade. Quem sabe assim, quebraremos esses velhos padrões de que a vida tem que ser "conquistada" e assim a conquistaremos, de fato.

Sunday, June 23, 2013

Perdendo o controle

Ainda temos muitos problemas com apego e relações de continuidade e curiosamente isso se constrói em muito do nossos medos. Aprendemos em vida a dificuldade de conquistar e controlar as coisas, mas deixamos de lado a realidade de que nem tudo precisa ser continuamente conquistado e que experiências de abdicar, perder, deixar e esquecer nos ajudam e muito. Temos uma incrível capacidade de perder o sentido ou de nos tornarmos totalmente fanáticos a alguns pensamentos ou ideias por acreditarmos que precisamos controlar. Infelizmente, vivemos numa certeza tão grande de alguns controles que certamente podemos definir isso como um pseudocontrole. Vivemos na condição de que sempre sabemos o que é melhor para o nosso caminho, da forma como esse caminho deve ser trilhado e como os outros provavelmente agirão, mas esquecemos que muitas das coisas que conseguimos e/ou conquistamos vieram até nós dentro da estrutura do “acaso” e que, na realidade, adicionando mais questionamentos sobre essa condição toda que possuímos, caimos num abismo mais profundo de uma realidade menos distante de nós (menos distante, por estarmos vivenciando ela diariamente, mas que está tão profundamente dentro do nosso condicionamento que está no nosso abismo pessoal).

Ninguém sabe exatamente como viver, porque viver ou quais as formas, “x”, “z” ou “y”. Qual delas seria a mais tranquila, a melhor escolha ou a mais assertiva ao nosso desejo ou quiçá à nossa transformação pessoal. Aprendemos a lidar conosco, mal e porcamente, e com outros ao nosso redor de forma menos acessível ainda, aprendemos a percebermos como sentimentos/impulsos funcionam e rezamos para que não caiamos em armadilhas que anteriormente se tornaram prisões e salas de tortura por uma grande incapacidade nossa relacionada a alguém ou algo e por não compreendermos ou não aceitarmos a condição daquele processo, até aquele momento, que por mais que quiséssemos talvez fosse melhor não ter e ir regulando a nossa dinâmica de existência mediante a tudo isso. Por isso, em várias eventualidades, caímos nos fanatismos, em especial, no autofanatismo.

Quando pensamos nas várias dinâmicas de todos esses questionamentos, realizamos que a nossa capacidade de viver é ir regulando dentro dos muitos erros cometidos e quando isso acontece, percebemos que na vida existimos em erros e não em acertos. E por isso, talvez, tentar procurar uma perfeição é o que nos torne tão sedentos por controle. Tentamos loucamente controlar tudo e todos e no final de toda essa vivência, percebemos que não controlamos nada. Frustrante talvez seja uma palavra pequena para o que de fato isso é passado. Não temos controle sobre nossas compreensões nem sobre nossas interpretações. 

Muitas vezes, nossos sentimentos nos traem, nossos medos nos dominam e nossas teimosias nos jogam de volta para o mar de incertezas que um dia passamos e juramos a nós mesmos não retornar. Repetimos padrões e erros que prometemos vezes e vezes não repetir e apresentamos àqueles mais íntimos esses erros, na medida em que eles possam talvez aprender de forma menos dolorida. 

O problema é que apesar de vivermos num mundo de padrões, ainda existem casos de probabilidade onde um padrão se torna o novo e se desintegra dentro do modelo. Esse por sua vez é extremamente necessário para renovação ou quem sabe para o novo. Por isso, que quando familiares ou amigXs, conversam e apresentam um problema, que por muitos já foi vivido, existe muito uma tendência de, quando solicitados, ajudarmos com aquilo que podemos, sabemos ou já tenhamos vivido. Nisso geramos um laço do não abdicar e do não querer deixar que eles passem pela dor de um erro ou de uma ilusão por nós vivenciada. Trazemos o afeto de um jeito egoísta por temermos ver aquele que tanto amamos com a dor de algo que poderia, aos nossos olhos, ser evitado ou abandonado, mas esquecemos que quando nós fomos no caminho contrário ao senso comum de familiares, tivemos nossa medida de experiência e até de realidade não digesta. Aprendemos e nos tornamos maduros e experientes com tudo isso.

Por isso, ver pais brigando com seus filhos para que eles façam algo, que sob seu olhar é o certo, tentando ter controle das ações e pensamentos e criando o que deveria ser o modelo de uma boa vida, mesmo que aos olhos do filho o semblante seja o da extrema tristeza pelo que foi feito, orgulho apenas com o construído e pouco aproveitado patrimônio ou do medo ou da incapacidade pelo que aquele sofrido ser passou, nos torne tão distantes de algumas coisas nossas. Como filho, vivenciei com tristeza e raiva em vários momentos e situações, o “controle” que minha mãe queria ter sobre mim e minhas decisões. Sei que se ela classificasse isso como “por amor”, talvez aceitasse a “desculpa”. Entretanto, claramente via como o “medo” do meu sofrimento e em vários momentos do sofrimento dela. Saber que o medo foi dominante e que por vezes caí nesse padrão, até por ser o meu modelo de aprendizado, hoje torna até mais tranquilo quando peço auxilio a ela. 

Por ter, agora, a clareza que somos seres diferentes, aproveito da sua sabedoria para melhor embasar a minha decisão, correndo ou não os riscos, mas sabendo que seja qual for a minha decisão, mesmo que eu ouça “eu avisei você”, fiz por precisar ver/sentir/viver algo que estava, talvez preso, em mim, e que seja qual for o resultado, triste ou feliz, ganharei o suporte necessário para manter, seja qual for, a continuidade.

Monday, May 13, 2013

Relações x Expectativas


Quando tinha 13 anos, possuía alguns amigos bem próximos, daqueles que nunca se separam e que (quase) todo mundo já teve.
Um dia, sem aviso prévio, um deles comentou algo que ficaria marcado para sempre na minha vida:
"Se algum dia perdermos contato e nos encontrarmos depois de alguns anos, vamos nos tratar como desconhecidos?"
Prontamente respondi que não. Afinal, como amigos de tão longa data iriam perder e contato? E mesmo que o fizessem, por qual motivo haviam de se tratar como estranhos?
Concordamos e o assunto foi encerrado.
Alguns anos calejados vieram, a faculdade, o trabalho, as responsabilidades da vida adulta não mais esperavam ser consideradas para trotarem vida adentro e, com isso, experiências de relacionamentos diversos e outros ficando no caminho. Inclusive o desse amigo.

A análise crua de um relacionamento mostra que ele nada mais é do que um alinhamento de expectativas entre duas ou mais pessoas, que caminham juntas para atingir um objetivo comum, por menos claro que este seja.
Alguns sabem identificar este objetivo e tem mais facilidade para lidar com ele ou até moldá-lo. Outros, parecem escravos deste.
No primeiro sinal de desencontro, instaura-se o caos e o relacionamento desmorona para o sentido inverso, como que numa tentativa de compensar o investimento já realizado na outra pessoa.
Esse é um mecanismo de defesa muito comum que busca um fim nobre: nos manter sãos e alinhados à nossas expectativas iniciais, além de tentar justificar as "perdas" decorrentes da especulação mal sucedida.

Estamos acostumados com o controle. Viciados, apoderados dele e por ele. Qualquer mudança brusca que fuja desse padrão nos faz procurar de forma cega e desesperada por algum engaste, de modo a retomar as rédeas imaginárias de nossa vida. Isso, porém causa a sensação inebriante de que temos responsabilidade por todos os fatos acontecidos durante a nossa jornada, sendo eles, na verdade, causas ou consequências de uma infinidade de fatores influentes.
A compreensão dessa realidade nos liberta dos grilhões da culpa (ou ao menos da associação obsessiva à ela) e nos possibilita tratar de forma mais saudável as escolhas e decorrências destas, selecionando o peso que cada um destes fatores terá no julgamento de nossas próximas ações.

Assim sendo, a divergência nas expectativas de qualquer relacionamento pode ser tratada de forma mais saudável, sem a necessidade de demonização dos demais envolvidos ou de si mesmo, compreendendo que todos ali representam o mesmo papel e estão sujeitos à influência de cargas emocionais trazidas de cada experiência pessoal vivida, cabendo a responsabilidade individual de tratá-las de acordo com sua maturidade.

O sucesso está presente em cada investimento, mesmo que comumente disfarçado de falha.
E o amigo? Nos encontramos muitos anos depois e absolutamente nada mudou. (:

Thursday, April 18, 2013

Pena

Pratico yoga há cerca de 5 anos e desde então varias coisas em minha vida mudaram.

Todas essas mudanças aconteceram no meu psicológico. Aprendi a respeitar mais o tempo de algumas coisas, aprendi a julgar menos, observar mais e me qualificar melhor dentro de um espaço pessoal. Aprendi a ver que muitas dificuldades que eu tinha eram apenas padrões em grande estado de repetição e várias outras coisas que talvez não faça muito sentido escrever agora.

Por todos os anos de prática, eu sempre ouvi a seguinte frase "pratique e pare de ter pena de si". Por algum motivo achava essa frase extremamente agressiva e havia um bom incomodo junto de mim por todas as vezes que a ouvi. Curiosamente, ouví-la era como quando sentado torto, alguém vira para e fala "senta direito". Nesse momento existe uma forte tendência a tentar dar o máximo de si para sentar de forma correta, mesmo que não se saiba ao certo fazer isso. Mas a frase dita repercutia em minha mente para procurar o porquê do incomodo que tanto me abalava. Com o tempo, aprendendo a ver que meu limite máximo era meu medo ou minha teimosia, comecei a me dar mais crédito para acessar algumas coisas e uma delas foi uma parte do incomodo mencionado. O incomodo era por eu ter sim, uma boa dose de pena de mim. Afinal, como alguém como eu poderia ser merecedor de algo? Ou pior, por que eu fazia tanta questão de ser merecedor? Por que achava que o que construía não tinha valor? Não tinha nada de físico para comprovar que eu tivesse algum valor dado ao que era considerado assim. E por que queria tanto ter algum valor? Por que insistir em algo que vai ser finito?

Assim, claramente eu tinha dúvidas contínuas, que deixavam claro a minha insegurança e a minha pena de mim mesmo. Entretanto, na hora de praticar, diariamente estava eu sobre o meu tapetinho, procurando respostas que pareciam completamente inacessíveis. Infelizmente, eu acessava as dúvidas, mas não saia muito disso.
Em 2012, depois de enfrentar alguns problemas, que foram tratados de forma prolongada, eu fui acometido por uma pneumonia que me impossibilitou de muitas coisas. Dentre elas, de mim mesmo. Por mais filosófico que isso pareça, aquele órgão que eu tinha trabalhado com tanto fervor e consciência, havia me deixado de lado, ou ao menos, eu me sentia assim. Por mais que procurasse ver os vários ângulos, não concebia uma pessoa que dedicou a vida a se cuidar e que caiu na malha da desgraça. Ler isso te mostra claramente que eu estava sendo vítima de mim. Tendo tanta pena que eu sofria por ser aquele que simplesmente caíra. Como os problemas continuaram com o seu prolongado sistema, perdi muita coisa. Tudo o que tinha de material acumulado tolamente foi perdido. Restaram apenas família, alguns amigos, que sempre me ajudaram muito, e o yoga. Apesar de tudo, a minha identidade, como alguém livre de várias coisas, havia se quebrado e por não me reconhecer com nada, parte se mim desejava uma única coisa, morrer. Por mais complicado que isso fosse e por mais dolorido que parecesse, tudo isso foi o melhor que me aconteceu. Aprendi a rever conceitos que considerava que estavam meio errôneos, como por exemplo, viajar e ir a show com amigos, dentre algumas várias outras coisas. Válido? Mais que isso, transformador. Sentia que desde o momento que havia saído do hospital, eu tinha deixado algo completamente certo de um monte de várias dores e saia alguém que compreendia que as coisas poderiam ser mais plenas.

Tal plenitude me trouxe amigos mais parecidos comigo, revelou máscaras que precisavam beijar o chão (minhas e de outros), revelou que eu precisava usufruir de algumas coisas a muito ensinadas verbalmente, mas que não tinham exemplos claros ou convictos. E que assim eu faria os meus próprios exemplos. Eu me tornaria, no meu máximo, com meus erros, aquilo que eu sentia que deveria me tornar. Mas havia ainda algumas coisas fora de ordem. O yoga ficou intermitente pela recuperação e meu corpo e eu começamos a nos estranhar. Estranhamento esse que me levou a um dia de fúria comigo mesmo. Percebi que ainda estava na minha pena. Claramente, tinha me transformado em muito, mas ainda estava com pena daquele que usou toda a sua capacidade para se isolar, relacionar-se com o mínimo no máximo. E se deixar levar. Se perder e achar que não tinha mais retorno, não que todo o processo fosse esse, mas havia muito disso ali colocado. A grande pergunta foi feita. "Por que ainda sinto pena de mim?" Entendimento não era algo que me faltasse, saber ouvir os outros também não era um problema. Então, onde estava incompleto?


Resolvi, numa segunda, retornar do jeito que fosse para meu corpo. Se ele tinha causado tanta irritação, ele quem me desse a resposta. Voltei a praticar com regularidade o meu yoga, tentando ao menos fazer 10 minutos de uma prática que anteriormente durava 2h30. Seja como for, o retorno parece sempre mais complicado que o primeiro passo. Após uma semana, cheio de ideias e planejamentos, percebi que muitas ideias vinham de uma continua dose de medo de não fazer. De saber que dali nada sairia. Vi amigos próximos realizarem algo que era parte da minha imagem, ainda antiga, mas boa, que precisava ser retornada a mim. Afinal, eu estava num estado deplorável. Resolvi ver fotos antigas de momentos que considerava importantes. Cheguei a perceber que sempre tive o mesmo problema em vida, eu sempre me sentia num estado deplorável.

Completamente consciente a isso, resolvi que faria diferente, para não cair na velha premissa de Einstein, precisava fazer diferente. Mesmo que minha sinusite aparentemente não deixasse. Tentaria algo novo. Assim, sempre que eu olhasse para dentro e sentisse que estava com pena de mim, faria algo para sair do estado que me encontrava.

Desde então, sinto duas coisas. A vida vale sentir pena de si, para permitir ver que você pode aprimorar e melhorar. A pena não é ruim, o que você faz com essa pena é que pode ser completamente autodestrutiva (assim como raiva ou qualquer outro sentimento que paralise os pensamentos em troca de algo que não seja seu).

A segunda coisa é que fica mais fácil agir em prol de si enquanto você sabe o que acontece. Por isso, buscar o conhecimento de cada emoção e de cada momento para entender isso. Lembrar-se que nossos defeitos existem e que por eles temos uma tendência a termos pena ou raiva de nós e saber que no mundo eles serão colocados na boca de outros vezes e vezes, queridos ou não. Isso mostra que o sentimento em si pode habitar a cada passo e talvez, só sejamos capazes de nos ver se aprendermos a respeitar algumas coisas claramente em nós. Assim valha, talvez, saber usar bem a afirmativa "Para de ter pena de si" sabendo quando tem pena de si.

Tuesday, March 12, 2013

Aprovando-se

Das relações mais importantes levadas em vida, a relação com aqueles que nos criam é das mais importantes. Dela temos os principais e primais aprendizados além de alguns vários processos conjuntos (posso citar o "édipo" aqui para facilitar). Entretanto, mesmo com construções assim, ainda nos perdemos nelas. Perceba, crianças não são vasos vazios para enchermos com a nossa pura e simples percepção. Elas já tem um conteúdo em desenvolvimento continuo que se soma a traços de personalidades e aprendizados dos seus tutores e isso é onde em grande parte geram as confusões. Muitas vezes essas "confusões" ganham o título de trauma e assim sendo, uma ferida carregada a vida a fora. Podemos citar a não aceitação da criança, que gera, de forma muito comum, adolescentes que se movimentam contra algo desconsiderando os famosos problemas de conflitos de geração onde todo adolescente é visto como um rebelde sem causa. Se pararmos para observar criteriosamente aquilo que está passando ou parece passar, os jovens ali colocados pedem de forma taxativa aprovação e aceitação daqueles que o tutoraram. Não é muito difícil ver esse padrão, caminhar pela infância, atravessar a adolescência e chegar até nós, já no mundo adulto.

A estrutura da aprovação, é algo que vai do provável ao improvável numa facilidade tão grande quanto a imaginação humana seja capaz, em processos grandiosos ou simples processos diários. Temos pessoas que veem em seus pais, pessoas para quem precisam competir contra ou em relação a algo, num pedido duradouro de aprovação onde ser melhor que os pais o coloca, mesmo que de forma alienada, num lugar onde é capaz de perceber-se como parte da família, ou ainda por cima, que sendo "o vitorioso" este estaria com a sua aprovação enfiada "goela a baixo". Poderíamos ver processos em contínuas relações afetivas, onde a pessoa se relaciona com aquele (arquétipo onde o édipo vai ser maior) de quem sente mais falta ou sente que a aprovação seria uma profunda "salvação". Há também a aprovação dada a distancia, como um pedido desesperado de reestruturar um rumo na vida. Pessoas que saem de casa e se dizem estruturalmente TOTALMENTE distantes e diferentes de seus pais, mas que muitas vezes acessam só um arquétipo oposto não tento tanta diferenciação assim. (Que fique claro, o oposto pode ser realmente muito diferente, mas é uma mesma energia sendo colocada em outra direção de vetor. Um exemplo disso são pais sufocantes que criam uma criança que se torna totalmente desapegada, numa clara visão onde o equilíbrio é a melhor opção, é a mesma "energia" sendo exacerbada a uma direção vetorial oposta). O problema é quando essa aceitação começa a movimentar e reger de formas mais pesadas a vida. Nisso confundimos a aprovação com vários outros sentimentos (necessidade de respeito, de afeto, de compreensão, de concordância ) e não sendo para menos, aprovação dos tutores, por vezes, é algo extremamente complicado de aceitar. Queremos que essa aceitação seja dada de forma escolhida por nós e, às vezes, ela já foi acessada e dada, mas como não veio na embalagem desejada, nos perdemos em confusão pelo todo disso. Um clássico exemplo desse pedido de aprovação é quando levamos nossas(os) namoradas(os) para conhecer nossos pais. Geralmente, sempre tem a pergunta "e aí? o que você achou?"

Quando as escolhas passam por um velho necessário "isso vai ser bom" disfarçado num pedido de qualquer coisa que se aproxime disso, caímos no padrão do vício e isso pode levar a questões tão profundas e doentias quanto qualquer comportamento levado a seus excessos. E para tal saída, resta-nos a percepção de que estamos trilhando algo cíclico que de alguma forma está nos deixando e nos levando sempre na direção da conexão com os que nos criaram.

Assim como em boa parte das relações de construção cíclica, essa relação de pedido de aprovação constante (isso é extremamente profundo e realista, para cada um de nós em cada dinâmica possível a nós mesmos, basta sermos realistas) começa a se perder quando aprendemos a lidar conosco e com a questão de que mesmo com uma clara "reprovação" daquilo que fizemos, o nosso espaço tem que estar em paz. É extremamente complicado viver pedindo aprovação de alguém que não é capaz de aprovar algo que não compreende. Um exemplo disso é a relação de filhos que começam a trabalhar com vínculos de trabalho home-office e ficam em casa trabalhando via internet e para seus pais alegam que aquela "brincadeira" de alguma forma, traz o dinheiro. Pode parecer bobo e até não veiculado, mas já tive amigos próximos que entraram em depressão por situações assim. Afinal, ele sempre teve o pai como modelo mor e esse não compreendia o que ele fazia e assim não o aprovava. A solução veio quando ele viu que não precisava realmente daquela aprovação ou poderia trabalhar com isso. Então, procurou explicar para o pai, sem qualquer sucesso. Decidiu que não iria buscar saber do pai o que ele achava sobre as coisas do trabalho, visto que ele jamais o perguntara sobre o trabalho. Para o meu amigo, a necessidade partia dele. Assim, se ele quebrasse o ciclo, sairia da demanda por aprovação e assim, pararia de cair no ciclo. Ele foi capaz de encarar, algo que poucos percebem, com ou sem a aprovação, que a relação profissional será a mesma, a forma de seu pai tratar-lhe seria igual e por ele perder a necessidade de compartilhar com o pai (sendo este o pedido de aprovação), a relação com seu pai tornou-se mais sadia.

Mesmo com tudo isso, ainda temos uma demanda grande por aprovação, que começa desde cedo, mas que pode ser interrompida à medida que aprendemos a lidar com essa situação. Compreender o porquê de querermos a aprovação, de querermos nos sentir aceitos e de precisarmos disso, faz com que consigamos, ao máximo, agir em prol de nossa própria aceitação de tudo aquilo que é feito por nós, reduzindo os vínculos de parar de pedir aprovações externas e aprender a lidar conosco de maneira mais plena.

Tuesday, March 5, 2013

Viciados

Umas das mais impressionantes coisas nas pessoas, para mim, é que nós somos extremamente capazes de escolher a forma e o que nos aflige, mas insistimos em permanecer cegos a isso.

Existe uma tendência em nós, em sofrer por algo na mesma intensidade que lhes damos importância. Uma forma de observar isso são pessoas que possuem algum vício de "fácil leitura", como por exemplo, fumar. Quando a pessoa está ansiosa, ela tende a fumar mais que o normal, ou quando a associação dela em relação ao fumo está em crise (a pessoa fuma em aspectos sociais e está naquele momento se sentindo socialmente deslocada), existe uma tendência de aumento do vício, pois o "sofrer" em relação a esta associação se colocou em crise. Se ela aprendesse claramente sobre o vício, olhar para ele e entender o porque de fumar, provavelmente isso ficaria mais fácil de desassociar o vício de si (apesar do exemplo, ele tem um porém, substâncias químicas afetam MUITO mais intensamente, por mexerem numa função que vai além do só psicológico, mas ainda passa muito pelo psicológico). Entretanto, quando colocamos de forma mais subjetiva, ou vícios menos aparentes, nos deparamos com uma tendência à vitimização que por muitas vezes passa o patético (que fique claro, mesmo passando o patético, todos, absolutamente todos, tendemos a isso).

Muitos de nós, ainda na infância, aprendemos a receber um certo tipo de estímulo a algumas coisas, seja um estimulo por sermos bons em matemática (e isso pode movimentar muita coisa futura em nós) ou por termos sido legais com aquela tia-velha-beijoqueira-que-insiste-em-arrancar-as-suas-bochechas, que ninguém o fazia e ela, por tal movimento, nos dá aquele mega presente de aniversário que nem nossos pais pensaram em dar. O problema disso é que quando saímos da cúpula familiar, isso começa a afetar em vários estágios e boa parte de nós não percebe que esses estímulos tendem a criam um vício, e que este, assim como vários outros, além de não ser uma opção, não é perceptível como vício.

Afinal de contas, uma pessoa que desde nova decide que precisa casar, não é visto como vício ou fuga (pode existir um vício aqui que seria o vício da fuga de conquista das coisas de forma independente, ainda achamos muito saudável isso e vemos como errado quem sai para morar só e constrói a vida assim). Mas quando analisamos nas bases da minúcia, esse "precisar" é muito diferente de um "querer". Infelizmente isso nunca é muito transparente ou claro de forma que facilite a vida. Desconsiderando funções orgânicas, quando "queremos", estamos em nossa função de escolha e quando "precisamos" estamos na nossa função da "não-escolha" e quando perdemos a nossa capacidade de escolher, estamos no vício. Pode parecer meio cartesiano, ou muito extremista, mas em sua maioria, a análise é essa. Escolhemos, achando que não o estamos fazendo, e precisamos na crença de estarmos no poder de escolher.

Colocando em outras formulações imagine aquelas pessoas que pulam de relacionamento em relacionamento. De certa forma, isso pode ser o que a mantém saudável (o que claramente torna isso um vício, afinal, quando você tira a substancia de um drogado, este perde a sua saúde além do comumente esperado). Entretanto, várias pessoas assim, tendem a viver uma única relação com várias. Mesmo que o ex seja fisicamente diferente do atual ou até psicologicamente não aproximado, a pessoa vive a mesma relação, com mesmos erros e percepções. Ela não se permite, de forma alguma, dar uma "desintoxicada" e uma reavaliada antes de se colocar disponível a outras e novas opções. Por isso, pessoas que tem seus momentos e movimentos ligados a um "espaçamento" afetivo, geralmente, quando aparecem em algumas outras e novas relações, já chegam com mais energia. Todos podem representar psicologicamente, para cada ser, uma forma ou um processo. Entretanto, dentro da percepção dos fatos, existe um vício por pessoas. Que, infelizmente, não é visto como problemático, até que a pessoa se manifeste ou se conecte a algo assim.

Assim aprender a observar aqueles que verdadeiramente sintonizam conosco e talvez aprender a enxergar aquela pessoa pelo que ela é, sabendo a muito quem você é, pode ou deseja ser, movimenta construções e relações aonde mesmo não tendendo ao infinito, tendem ao não-vício, à não-doença e a amadurecimentos, inclusive a quebrar o ciclo da nossa própria dor, reduzindo nossa insegurança e nos dando conforto.

Wednesday, February 27, 2013

Em guerra

Diariamente, ao me levantar, me dou alguns minutos para aproveitar a preguiça. Em dias que não faço isso, me sinto seriamente deslocado da realidade. Parece que minha alma, que vagava existência a fora enquanto eu dormia, ainda não se acoplou ao corpo.

O estranho é que, ao comentar com algumas pessoas, várias ficaram horrorizadas por eu fazer isso. E, pensando mais detalhadamente sobre o assunto, só consigo ver que as pessoas não percebem que estão em guerra.

Ao invés de aprendermos na escola a melhor forma de cada um adquirir conhecimento, somos todos forçados a entrar num sistema único de ensino, onde o que se aprende não é necessariamente medido, mas serve com muita força para nos tornar competitivos. Infantes realmente pequenos já começam a proferir formas e estruturas de competitividade bem pesadas. E para piorar isso, aprendemos a competir com tudo. Competimos para saber quem são mais fortes, mais rápidos, mais bonitos e até mais ricos. Como se de alguma forma, conseguíssemos clareza nas medições. Talvez nessas, tenhamos. Mas à medida que amadurecemos, competimos com a vida, mesmo que sem querer, e entramos aonde poucos realmente se veem. Querermos saber quem é que sofre mais, quem é que ganha mais, quem é que fode mais, quem é que tem mais capacidade de trabalhar sem dormir (competimos com a NOSSA vida, ao reduzirmos drasticamente horas de sono em prol de sermos algo, não necessariamente, melhores) e exemplos jamais faltaram.

O trajeto disso, além da clara autodestruição, é a realidade de ficar numa competição tão grande, que desaprendemos coisas básicas. Como quando as pessoas perdem a clareza e competem com os amigos, quando deveriam ajudá-los, competem com os amores escolhidos e não entendem por que erram tanto e tão constantemente com situações banais. Competem com pai e mãe, pois o erro de percepção desses criam traumas que aquela criança mesmo sendo incapaz de perceber que havia uma boa intenção, não consegue perdoar. Disso, desaprendemos a entender o tempo, por também estarmos sempre competindo com ele. Nossa relação de existência se dá basicamente contra o tempo. Não aprendemos a apreciar as manhãs, comemos rápido, dizemos não ter tempo para trocar afeto, deixamos e abdicamos de pessoas importantes, por criarmos tanta coisa que não cabe naquele tempo. Olhamos para o relógio como se precisássemos correr para algum lugar competir com algo que nos matará mais cedo. Estamos nos tornando pessoas que competem tanto que qualquer carinho ou boa ação gratuita, nos comove além do normal (tanto para o bom como para o mau que há nisso, se é que há algum mau) enquanto elas deveriam ser as atitudes normais. Achamos que vamos ser traídos na competição da vida se pararmos para estender algum desconhecido que cai ou se deixamos a correria de lado para apreciar o encaixe da alma de volta ao corpo durante aquela preguiça ainda na cama ao levantar. Somos monstros devoradores de qualquer capacidade, necessitados por competitividade de um jeito tão bizarro que nos esquecemos de ser os melhores amigos, os melhores amores/amantes e os melhores filhos/parentes. Estamos perdendo a essência do que é ser humano para nos tornarmos máquinas. Estamos tão sem coração que quem chora é fraco, quem fala a sinceridade das emoções é trouxa e quem sente, de todo coração, está perdido.

Talvez precisemos de mais tempo para aprender que mesmo nessa correria merecemos calor e carinho. Merecemos um pouco de paz. Inclusive de nós.

Monday, January 28, 2013

Ofensas

Sempre achei meio repugnante coisas do tipo "Minha educação depende da sua" ou "meu comportamento varia pelo seu." Sejamos coerentes, depender da polidez do outro para ter ética e respeito num relacionamento é quase como, num casal de namorados, um só escovar os dentes se outro escovar, a despeito da necessidade de higiene. O que, numa análise mais distante, torna-o passivo ao mundo e ainda por cima alguém reativo à realidade.

Só que essa é uma visão simplicista. Várias coisas podem ser retiradas e até melhor percebidas dessa situação. Para nós, a capacidade de ofender nunca é nossa. Somos criados de forma a perceber que quem ofende é sempre "o outro" e que somos vítimas disso. Só que não é assim. Ofendemo-nos por estruturas de não aceitação, por orgulho ferido e pela incapacidade de sermos mais acolhedores com coisas que estão em nós, ou seja, o que para nós é ofensa depende basicamente de nossa percepção, afinal, nos importamos demais com o nosso ego.

Se observarmos as ideologias de processos religiosos de qualquer um dos avatares que perambularam pela bolota azul, provavelmente ficaríamos surpresos que eles cobram atividade e força e não passividade e reatividade.

O cristãos, donos da frase "amai ao próximo como a ti mesmo", deixam muito clara a necessidade de sermos ativos enquanto somos capazes de nos amar. Que a nossa responsabilidade para com os outros vem da nossa responsabilidade para conosco e que devemos ter isso como conduta. Claramente, isso não é tão seguido. Infelizmente, vemos muito mais a reatividade de comportamento, do que a atividade de cuidar do outro como gostaríamos de ser cuidados.

A visão budista, por sua vez, é bem ilustrada no conto em que Buda, sendo severamente ofendido, é perguntado por um de seus preocupados discípulos se ele não responderia as ofensas, ao que ele responde (algo assim) : "Quando você não pode aceitar um presente, ele simplesmente não fica com você, ele retorna imediatamente a quem o presenteia". Por mais que possa parecer uma birra infantil, ele deixava claro que a atividade de movimentação se dá na direção de quem tenta ofender. Afinal, damos ao mundo e espalhamos, para aqueles que nos cercam, aquilo que estamos cheios para oferecer. Então, se aqueles que nos cercam tentam nos ofender, podemos "aceitar" o presente e devolver muito daquilo que está em nós, na mesma moeda, ou podemos procurar a tolerância e não nos ofendermos mais.

Entende o porquê de eu considerar essa "espera" até meio repugnante? É muito estranho perceber que alguém está brincando de Suíça (sempre neutro) até que o outro se mostre com uma postura desejada, ou pior, perceber que a pessoa não para e pensa que uma possível ofensa pode ser uma simples afirmativa inofensiva e age de forma totalmente reativa. A problemática toda se dá na nossa incapacidade de sempre compreender as pessoas. E, especialmente, da nossa necessidade de aprovação perante as pessoas. Julgamos muito e somos muito julgados, mas isso não quer dizer que estejamos, necessariamente, certos ou que não seja uma ação ou ideia adaptável, ao ponto de ela ter outros pontos de vista. A aprovação tem que vir de nós, sermos capazes de perceber o que somos sem ter a continua necessidade de uma visão externa. Por isso, sempre optei por fazer e dar o melhor da minha educação, independente da educação alheia. Isso evita desconfortos e crises e me ajuda inclusive a poder cobrar melhorias pessoais.

Assim, considero sempre mais sincero quem é explosivo por ser, quem é mal-educado por não ter tido qualquer criação ou limitação sobre algumas coisas a quem insiste em se manter "parado" a ser minimamente agradável logo no início de toda uma relação. Sempre melhor, para mim, dar um algo agradável, nem que seja a educação, para deixar o outro num espaço de conforto, do que qualquer coisa fria. Mas acho que ser totalmente reativo à educação alheia, por muitas vezes, coloca-nos em situações que facilmente poderiam ter sido evitadas e inclusive deixadas de lado. Afinal de contas, sair pelo mundo absorvendo a negatividade dos outros é péssimo. Se sente que seus amigos estão te fazendo mais mal do que bem, talvez seja uma boa se afastar e procurar pessoas que trilhem algo próximo a você, em especial, que te façam bem. Lembre-se: a nós é dado, sim, o poder de nos importar com algumas coisas. Aprender a ser sempre você e ignorar aqueles que em nada ajudam, mas em muito atrapalham, tornam um todo do mundo mais bonito.

Thursday, January 24, 2013

Pertencer

Desde muito novo, eu me sentia diferente por eu sempre ter características de certa prematuridade que pareciam distantes dos meus amigos. Era engraçado perceber como eu sempre passava um "ar" de qualquer coisa meio sem esperança. Havia um nível de percepção meio desesperado, de certo sofrimento necessário, ainda quando criança. O mais intrigante foi encarar esse sofrimento.

Eu nunca fui uma pessoa que tinha quaisquer memórias claras sobre minha infância. Era até engraçado que muitas vezes minhas memórias eram falas de amigos da época, das irmãs ou da minha mãe, mas raramente algo meu. Há algum tempo, num momento de desespero (afinal, não recordar de praticamente nada da infância me parecia não tê-la tido), comecei a lembrar de algumas coisas. À medida que essas memórias se aproximavam, eu percebia claramente que não gostava muito de existir e não era feliz, por me sentir uma aberração ao redor de vários outros. Que fique bem claro, nunca houve qualquer pensamento suicida, apenas sentia que era meio inútil ou nada agradável estar "ali". E, com isso, havia uma clara tristeza de sentir-me meio só.

Depois de alguns anos, sentir-se diferente demais foi se tornando um múltiplo de coisas, o que acabou dificultando várias percepções. O fato de eu ter tido uma criação consideravelmente diferente (fui criado, em sua maior parte, apenas por mulheres) nunca foi fácil e contribuiu bastante para a minha condição. Embora eu tivesse um bom entendimento da não presença ou existência do meu pai, no fundo sempre houve uma dor. Não era muito tranquilo para um adolescente não ter o pai. Na minha cabeça, aquela situação era necessariamente motivo para sentir mais dor e mais tristeza. Se já havia a sensação de sentir-me só, agora ela havia se tornado solidão com um abraço de abandono.

Quanto mais se aproximava da idade adulta, mais clara essa minha condição foi percebida. E com o passar das épocas (infância, adolescência, juventude), mais forte se tornaram alguns processos.

Em relações afetivas, minhas tristezas sobressaíram para várias campos. Minhas namoradas cobravam muitas coisas que no fundo não compreendia, mas que, por ver isso como padrão (entre outras relações, mesmo não concordando em alguns casos), fazia por parecer o correto. Depois comecei a questionar meus posicionamentos e os de quem se envolvia comigo... E bem, fácil de perceber que havia um erro social/afetivo ali.

Por não me sentir igual às pessoas e por ter uma tristeza impermeável, me coloquei em muitas situações que facilmente não teria absorvido se tivesse simplesmente aceitado minha bagagem. Como diria Nietzsche, "torna-te quem tu és"! Mas preferi tentar esconder essa tristeza, tentar fazer parte de algo que não conseguia.

Essa tristeza era a minha clareza de não encontrar pares de pertencimento. Sentia um completo E.T., mesmo estando envolvido afetivamente a algumas pessoas. Pense assim, eu tinha um medo muito grande de ser diferente, esse medo gerou a tristeza que relato aqui, essa tristeza me fez ser algo que não era e assim viver uma vida que claramente não me faria bem. Era como se um leão simplesmente vivesse a vida de um lobo e não entendesse por que se sente tão triste com tudo isso.

Apesar de tudo, o curioso hoje é saber que quanto mais afasto aquela tristeza, tornando-me quem de fato sou, mais eu encontro pares, amigos que mostram claramente que eu não estou só por ser o que sou. Eles me fizeram perder o medo de não pertencer.

Sejamos simples. Basta pararmos de temer a solidão e trazermos mais à tona o que somos. Trabalhando sempre com nossa real percepção em prol de nossa constante melhora. Assim, talvez, aprendamos inclusive a ajudar aqueles que ao nosso lado estão, com a clareza e a convicção de que não é só necessário ser igual, mas que até na diferença, conseguimos estender a mão.

Thursday, January 10, 2013

Traumas

Quando, correndo loucamente, você cai, rola (ou simplesmente cai como uma fruta madura e para) e dolorosamente percebe que quebrou o pé, o que faz? Vai ao médico, engessa, ganha um atestado e, após 15 dias de repouso, volta lindamente à sua vida caminhando sobre aquele pé, agora curado. Permitir que esse período de recuperação ocorra no corpo físico parece natural e admissível, afinal, ver o trauma e sentir a dor torna muito mais fácil aceitar a necessidade dessa pausa. Entretanto, quando o trauma ocorre de forma invisível, no nosso corpo emocional, será que permitimos que essa recuperação ocorra?

Acredito que todos já passaram na vida (ou se não passaram, passarão, não se desespere) por um momento em que, mesmo sem qualquer pessoa tocar a outra, ocorre uma quebra de relação, ou de vontade, ou de desejo, ou ocorre a frustração de uma expectativa muito alta. E, nesse processo, acontece algo tão traumático como o de quebrar o pé: Existe dor, sofrimento, desespero e a necessidade de ir ao hospital "enfaixar" ou "engessar" a parte que se quebrou. Existe também a necessidade de se dar tempo para o corpo regenerar, de maneira que a parte rompida recuperar sua utilização. O que curiosamente não ocorre. Em nossa sociedade, infelizmente, aprendemos tanto a lidar com aquilo que vemos, que esquecemos que o que não vemos é, em geral, mais importante e até mais "palpável".

Perceba, quando passamos pela morte de algum ente querido, existe um trauma claro, quase como uma fratura exposta. A situação da morte nos força a lidar com o fim de uma coisa sem nunca ter-nos sido ensinado abdicar dela. Isso causa muita dor e sofrimento. Com o tempo, o natural é que aprendamos a lidar com aquela perda, mas não costumamos nos dar esse direito. Geralmente, sofremos durante certo tempo, mas sempre estamos nos cobrando estar bem logo após o que consideramos ser um tempo razoável para a cura. E ainda queremos que não haja mais nenhum reflexo ou ligação com aquela situação da qual nos trouxe o trauma.

Infelizmente, diferente do nosso corpo físico, nosso corpo emocional não atua baseado na nossa razão. Quando, por exemplo, tememos andar de skate depois de termos caído quebrado o antebraço uma vez, achamos mediamente aceitável. O detalhe, é que quando nosso corpo físico sofre um trauma e há uma recorrência de dores, basta tirarmos um raio-x e verificamos como o corpo está reagindo àquilo que foi escolhido e aplicado como processo de cura. Quando isso ocorre ao nosso trauma emocional, o comportamento é, geralmente, uma raiva, ou um medo, daquela "energia" ou sentimento ainda se manifestarem e com tudo isso, conseguimos perceber que há algo de errado, mas não conseguimos nos entregar para isso. Há uma continua revolta, como se aquele trauma estivesse muito errado em ainda existir.

Acontece que a realidade é outra. Emocionalmente, somos muito sutis e praticamente imperceptíveis, afinal, conseguimos esconder (em vários casos) desejos, vontades, até medos. Só que não conseguimos não sofrermos as consequências disso. Somos um subproduto do nosso processo emocional e quanto mais inteligência emocional vamos nos proporcionando, mais capazes somos de sermos conscientes (por que sinceramente ter controle aqui é quase uma utopia).

Assim, quando sofrermos traumas emocionais (podem inclusive ser traumas físicos que desencadeiem um processo emocional), que sejamos capazes de dar ao corpo/coração o tempo da recuperação e de perceber que ele tem o direito de nos trazer saudades, dores, tristezas em momentos totalmente sem esperança. Que sejamos capazes de chorar, de derramar tudo aquilo que nos sobra sobre esse trauma, para que não nos falte, no pós-traumático, acolhimento para nos recuperarmos por completo. Só assim poderemos "correr livres" novamente.

Como há muito tempo aprendido, cada dia é "um dia", cada dia "é um corpo", cada dia "uma mente" e cada dia "um coração". Aprender a respeitar este espaço interno de transformação e aceitação é necessário e dolorido, mas rejeitá-lo é talvez muito mais tortuoso e destrutivo. Acreditando que ninguém quer ser torturado, imagina isso acontecendo, tendo você mesmo como carrasco. Melhor não, né?