Sempre achei meio repugnante coisas do tipo "Minha educação depende da sua" ou "meu comportamento varia pelo seu." Sejamos coerentes, depender da polidez do outro para ter ética e respeito num relacionamento é quase como, num casal de namorados, um só escovar os dentes se outro escovar, a despeito da necessidade de higiene. O que, numa análise mais distante, torna-o passivo ao mundo e ainda por cima alguém reativo à realidade.
Só que essa é uma visão simplicista. Várias coisas podem ser retiradas e até melhor percebidas dessa situação. Para nós, a capacidade de ofender nunca é nossa. Somos criados de forma a perceber que quem ofende é sempre "o outro" e que somos vítimas disso. Só que não é assim. Ofendemo-nos por estruturas de não aceitação, por orgulho ferido e pela incapacidade de sermos mais acolhedores com coisas que estão em nós, ou seja, o que para nós é ofensa depende basicamente de nossa percepção, afinal, nos importamos demais com o nosso ego.
Se observarmos as ideologias de processos religiosos de qualquer um dos avatares que perambularam pela bolota azul, provavelmente ficaríamos surpresos que eles cobram atividade e força e não passividade e reatividade.
O cristãos, donos da frase "amai ao próximo como a ti mesmo", deixam muito clara a necessidade de sermos ativos enquanto somos capazes de nos amar. Que a nossa responsabilidade para com os outros vem da nossa responsabilidade para conosco e que devemos ter isso como conduta. Claramente, isso não é tão seguido. Infelizmente, vemos muito mais a reatividade de comportamento, do que a atividade de cuidar do outro como gostaríamos de ser cuidados.
A visão budista, por sua vez, é bem ilustrada no conto em que Buda, sendo severamente ofendido, é perguntado por um de seus preocupados discípulos se ele não responderia as ofensas, ao que ele responde (algo assim) : "Quando você não pode aceitar um presente, ele simplesmente não fica com você, ele retorna imediatamente a quem o presenteia". Por mais que possa parecer uma birra infantil, ele deixava claro que a atividade de movimentação se dá na direção de quem tenta ofender. Afinal, damos ao mundo e espalhamos, para aqueles que nos cercam, aquilo que estamos cheios para oferecer. Então, se aqueles que nos cercam tentam nos ofender, podemos "aceitar" o presente e devolver muito daquilo que está em nós, na mesma moeda, ou podemos procurar a tolerância e não nos ofendermos mais.
Entende o porquê de eu considerar essa "espera" até meio repugnante? É muito estranho perceber que alguém está brincando de Suíça (sempre neutro) até que o outro se mostre com uma postura desejada, ou pior, perceber que a pessoa não para e pensa que uma possível ofensa pode ser uma simples afirmativa inofensiva e age de forma totalmente reativa. A problemática toda se dá na nossa incapacidade de sempre compreender as pessoas. E, especialmente, da nossa necessidade de aprovação perante as pessoas. Julgamos muito e somos muito julgados, mas isso não quer dizer que estejamos, necessariamente, certos ou que não seja uma ação ou ideia adaptável, ao ponto de ela ter outros pontos de vista. A aprovação tem que vir de nós, sermos capazes de perceber o que somos sem ter a continua necessidade de uma visão externa. Por isso, sempre optei por fazer e dar o melhor da minha educação, independente da educação alheia. Isso evita desconfortos e crises e me ajuda inclusive a poder cobrar melhorias pessoais.
Assim, considero sempre mais sincero quem é explosivo por ser, quem é mal-educado por não ter tido qualquer criação ou limitação sobre algumas coisas a quem insiste em se manter "parado" a ser minimamente agradável logo no início de toda uma relação. Sempre melhor, para mim, dar um algo agradável, nem que seja a educação, para deixar o outro num espaço de conforto, do que qualquer coisa fria. Mas acho que ser totalmente reativo à educação alheia, por muitas vezes, coloca-nos em situações que facilmente poderiam ter sido evitadas e inclusive deixadas de lado. Afinal de contas, sair pelo mundo absorvendo a negatividade dos outros é péssimo. Se sente que seus amigos estão te fazendo mais mal do que bem, talvez seja uma boa se afastar e procurar pessoas que trilhem algo próximo a você, em especial, que te façam bem. Lembre-se: a nós é dado, sim, o poder de nos importar com algumas coisas. Aprender a ser sempre você e ignorar aqueles que em nada ajudam, mas em muito atrapalham, tornam um todo do mundo mais bonito.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
0 comments:
Post a Comment