Monday, January 28, 2013

Ofensas

Sempre achei meio repugnante coisas do tipo "Minha educação depende da sua" ou "meu comportamento varia pelo seu." Sejamos coerentes, depender da polidez do outro para ter ética e respeito num relacionamento é quase como, num casal de namorados, um só escovar os dentes se outro escovar, a despeito da necessidade de higiene. O que, numa análise mais distante, torna-o passivo ao mundo e ainda por cima alguém reativo à realidade.

Só que essa é uma visão simplicista. Várias coisas podem ser retiradas e até melhor percebidas dessa situação. Para nós, a capacidade de ofender nunca é nossa. Somos criados de forma a perceber que quem ofende é sempre "o outro" e que somos vítimas disso. Só que não é assim. Ofendemo-nos por estruturas de não aceitação, por orgulho ferido e pela incapacidade de sermos mais acolhedores com coisas que estão em nós, ou seja, o que para nós é ofensa depende basicamente de nossa percepção, afinal, nos importamos demais com o nosso ego.

Se observarmos as ideologias de processos religiosos de qualquer um dos avatares que perambularam pela bolota azul, provavelmente ficaríamos surpresos que eles cobram atividade e força e não passividade e reatividade.

O cristãos, donos da frase "amai ao próximo como a ti mesmo", deixam muito clara a necessidade de sermos ativos enquanto somos capazes de nos amar. Que a nossa responsabilidade para com os outros vem da nossa responsabilidade para conosco e que devemos ter isso como conduta. Claramente, isso não é tão seguido. Infelizmente, vemos muito mais a reatividade de comportamento, do que a atividade de cuidar do outro como gostaríamos de ser cuidados.

A visão budista, por sua vez, é bem ilustrada no conto em que Buda, sendo severamente ofendido, é perguntado por um de seus preocupados discípulos se ele não responderia as ofensas, ao que ele responde (algo assim) : "Quando você não pode aceitar um presente, ele simplesmente não fica com você, ele retorna imediatamente a quem o presenteia". Por mais que possa parecer uma birra infantil, ele deixava claro que a atividade de movimentação se dá na direção de quem tenta ofender. Afinal, damos ao mundo e espalhamos, para aqueles que nos cercam, aquilo que estamos cheios para oferecer. Então, se aqueles que nos cercam tentam nos ofender, podemos "aceitar" o presente e devolver muito daquilo que está em nós, na mesma moeda, ou podemos procurar a tolerância e não nos ofendermos mais.

Entende o porquê de eu considerar essa "espera" até meio repugnante? É muito estranho perceber que alguém está brincando de Suíça (sempre neutro) até que o outro se mostre com uma postura desejada, ou pior, perceber que a pessoa não para e pensa que uma possível ofensa pode ser uma simples afirmativa inofensiva e age de forma totalmente reativa. A problemática toda se dá na nossa incapacidade de sempre compreender as pessoas. E, especialmente, da nossa necessidade de aprovação perante as pessoas. Julgamos muito e somos muito julgados, mas isso não quer dizer que estejamos, necessariamente, certos ou que não seja uma ação ou ideia adaptável, ao ponto de ela ter outros pontos de vista. A aprovação tem que vir de nós, sermos capazes de perceber o que somos sem ter a continua necessidade de uma visão externa. Por isso, sempre optei por fazer e dar o melhor da minha educação, independente da educação alheia. Isso evita desconfortos e crises e me ajuda inclusive a poder cobrar melhorias pessoais.

Assim, considero sempre mais sincero quem é explosivo por ser, quem é mal-educado por não ter tido qualquer criação ou limitação sobre algumas coisas a quem insiste em se manter "parado" a ser minimamente agradável logo no início de toda uma relação. Sempre melhor, para mim, dar um algo agradável, nem que seja a educação, para deixar o outro num espaço de conforto, do que qualquer coisa fria. Mas acho que ser totalmente reativo à educação alheia, por muitas vezes, coloca-nos em situações que facilmente poderiam ter sido evitadas e inclusive deixadas de lado. Afinal de contas, sair pelo mundo absorvendo a negatividade dos outros é péssimo. Se sente que seus amigos estão te fazendo mais mal do que bem, talvez seja uma boa se afastar e procurar pessoas que trilhem algo próximo a você, em especial, que te façam bem. Lembre-se: a nós é dado, sim, o poder de nos importar com algumas coisas. Aprender a ser sempre você e ignorar aqueles que em nada ajudam, mas em muito atrapalham, tornam um todo do mundo mais bonito.

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