Desde muito novo, eu me sentia diferente por eu sempre ter características de certa prematuridade que pareciam distantes dos meus amigos. Era engraçado perceber como eu sempre passava um "ar" de qualquer coisa meio sem esperança. Havia um nível de percepção meio desesperado, de certo sofrimento necessário, ainda quando criança. O mais intrigante foi encarar esse sofrimento.
Eu nunca fui uma pessoa que tinha quaisquer memórias claras sobre minha infância. Era até engraçado que muitas vezes minhas memórias eram falas de amigos da época, das irmãs ou da minha mãe, mas raramente algo meu. Há algum tempo, num momento de desespero (afinal, não recordar de praticamente nada da infância me parecia não tê-la tido), comecei a lembrar de algumas coisas. À medida que essas memórias se aproximavam, eu percebia claramente que não gostava muito de existir e não era feliz, por me sentir uma aberração ao redor de vários outros. Que fique bem claro, nunca houve qualquer pensamento suicida, apenas sentia que era meio inútil ou nada agradável estar "ali". E, com isso, havia uma clara tristeza de sentir-me meio só.
Depois de alguns anos, sentir-se diferente demais foi se tornando um múltiplo de coisas, o que acabou dificultando várias percepções. O fato de eu ter tido uma criação consideravelmente diferente (fui criado, em sua maior parte, apenas por mulheres) nunca foi fácil e contribuiu bastante para a minha condição. Embora eu tivesse um bom entendimento da não presença ou existência do meu pai, no fundo sempre houve uma dor. Não era muito tranquilo para um adolescente não ter o pai. Na minha cabeça, aquela situação era necessariamente motivo para sentir mais dor e mais tristeza. Se já havia a sensação de sentir-me só, agora ela havia se tornado solidão com um abraço de abandono.
Quanto mais se aproximava da idade adulta, mais clara essa minha condição foi percebida. E com o passar das épocas (infância, adolescência, juventude), mais forte se tornaram alguns processos.
Em relações afetivas, minhas tristezas sobressaíram para várias campos. Minhas namoradas cobravam muitas coisas que no fundo não compreendia, mas que, por ver isso como padrão (entre outras relações, mesmo não concordando em alguns casos), fazia por parecer o correto. Depois comecei a questionar meus posicionamentos e os de quem se envolvia comigo... E bem, fácil de perceber que havia um erro social/afetivo ali.
Por não me sentir igual às pessoas e por ter uma tristeza impermeável, me coloquei em muitas situações que facilmente não teria absorvido se tivesse simplesmente aceitado minha bagagem. Como diria Nietzsche, "torna-te quem tu és"! Mas preferi tentar esconder essa tristeza, tentar fazer parte de algo que não conseguia.
Essa tristeza era a minha clareza de não encontrar pares de pertencimento. Sentia um completo E.T., mesmo estando envolvido afetivamente a algumas pessoas. Pense assim, eu tinha um medo muito grande de ser diferente, esse medo gerou a tristeza que relato aqui, essa tristeza me fez ser algo que não era e assim viver uma vida que claramente não me faria bem. Era como se um leão simplesmente vivesse a vida de um lobo e não entendesse por que se sente tão triste com tudo isso.
Apesar de tudo, o curioso hoje é saber que quanto mais afasto aquela tristeza, tornando-me quem de fato sou, mais eu encontro pares, amigos que mostram claramente que eu não estou só por ser o que sou. Eles me fizeram perder o medo de não pertencer.
Sejamos simples. Basta pararmos de temer a solidão e trazermos mais à tona o que somos. Trabalhando sempre com nossa real percepção em prol de nossa constante melhora. Assim, talvez, aprendamos inclusive a ajudar aqueles que ao nosso lado estão, com a clareza e a convicção de que não é só necessário ser igual, mas que até na diferença, conseguimos estender a mão.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
0 comments:
Post a Comment