Tuesday, March 5, 2013

Viciados

Umas das mais impressionantes coisas nas pessoas, para mim, é que nós somos extremamente capazes de escolher a forma e o que nos aflige, mas insistimos em permanecer cegos a isso.

Existe uma tendência em nós, em sofrer por algo na mesma intensidade que lhes damos importância. Uma forma de observar isso são pessoas que possuem algum vício de "fácil leitura", como por exemplo, fumar. Quando a pessoa está ansiosa, ela tende a fumar mais que o normal, ou quando a associação dela em relação ao fumo está em crise (a pessoa fuma em aspectos sociais e está naquele momento se sentindo socialmente deslocada), existe uma tendência de aumento do vício, pois o "sofrer" em relação a esta associação se colocou em crise. Se ela aprendesse claramente sobre o vício, olhar para ele e entender o porque de fumar, provavelmente isso ficaria mais fácil de desassociar o vício de si (apesar do exemplo, ele tem um porém, substâncias químicas afetam MUITO mais intensamente, por mexerem numa função que vai além do só psicológico, mas ainda passa muito pelo psicológico). Entretanto, quando colocamos de forma mais subjetiva, ou vícios menos aparentes, nos deparamos com uma tendência à vitimização que por muitas vezes passa o patético (que fique claro, mesmo passando o patético, todos, absolutamente todos, tendemos a isso).

Muitos de nós, ainda na infância, aprendemos a receber um certo tipo de estímulo a algumas coisas, seja um estimulo por sermos bons em matemática (e isso pode movimentar muita coisa futura em nós) ou por termos sido legais com aquela tia-velha-beijoqueira-que-insiste-em-arrancar-as-suas-bochechas, que ninguém o fazia e ela, por tal movimento, nos dá aquele mega presente de aniversário que nem nossos pais pensaram em dar. O problema disso é que quando saímos da cúpula familiar, isso começa a afetar em vários estágios e boa parte de nós não percebe que esses estímulos tendem a criam um vício, e que este, assim como vários outros, além de não ser uma opção, não é perceptível como vício.

Afinal de contas, uma pessoa que desde nova decide que precisa casar, não é visto como vício ou fuga (pode existir um vício aqui que seria o vício da fuga de conquista das coisas de forma independente, ainda achamos muito saudável isso e vemos como errado quem sai para morar só e constrói a vida assim). Mas quando analisamos nas bases da minúcia, esse "precisar" é muito diferente de um "querer". Infelizmente isso nunca é muito transparente ou claro de forma que facilite a vida. Desconsiderando funções orgânicas, quando "queremos", estamos em nossa função de escolha e quando "precisamos" estamos na nossa função da "não-escolha" e quando perdemos a nossa capacidade de escolher, estamos no vício. Pode parecer meio cartesiano, ou muito extremista, mas em sua maioria, a análise é essa. Escolhemos, achando que não o estamos fazendo, e precisamos na crença de estarmos no poder de escolher.

Colocando em outras formulações imagine aquelas pessoas que pulam de relacionamento em relacionamento. De certa forma, isso pode ser o que a mantém saudável (o que claramente torna isso um vício, afinal, quando você tira a substancia de um drogado, este perde a sua saúde além do comumente esperado). Entretanto, várias pessoas assim, tendem a viver uma única relação com várias. Mesmo que o ex seja fisicamente diferente do atual ou até psicologicamente não aproximado, a pessoa vive a mesma relação, com mesmos erros e percepções. Ela não se permite, de forma alguma, dar uma "desintoxicada" e uma reavaliada antes de se colocar disponível a outras e novas opções. Por isso, pessoas que tem seus momentos e movimentos ligados a um "espaçamento" afetivo, geralmente, quando aparecem em algumas outras e novas relações, já chegam com mais energia. Todos podem representar psicologicamente, para cada ser, uma forma ou um processo. Entretanto, dentro da percepção dos fatos, existe um vício por pessoas. Que, infelizmente, não é visto como problemático, até que a pessoa se manifeste ou se conecte a algo assim.

Assim aprender a observar aqueles que verdadeiramente sintonizam conosco e talvez aprender a enxergar aquela pessoa pelo que ela é, sabendo a muito quem você é, pode ou deseja ser, movimenta construções e relações aonde mesmo não tendendo ao infinito, tendem ao não-vício, à não-doença e a amadurecimentos, inclusive a quebrar o ciclo da nossa própria dor, reduzindo nossa insegurança e nos dando conforto.

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