Períodos atrás, escrevi um post que falava muito da nossa natureza competitiva. Cheguei a citar sobre quando pessoas competem para ver quem esta sofrendo e/ou passando por desgraça de forma pior que o "outro”.
Há alguns dias tenho me atentado a algo curioso. Estamos tão carentes de nós mesmos que sofrer parece nos tornar mais merecedores de algo (seja isso o que for) ou, de alguma forma, isso parece ser um ensinamento que está lapidado em nossas mentes.
Alguém fala "nossa, estou triste", outro rebate, "mas, você tem tudo, como pode estar triste? Eu é que deveria estar, tenho isso e aquilo, estou numa pior".
No exemplo, fica claro que:
1 - Temos um grande prazer em negar os sofrimentos dos outros, como se não pudéssemos ter os nossos (o que torna justo aceitar o sofrimento do outro) e ainda por cima queremos enfiar de qualquer forma o nosso sofrimento, pedindo validação deste. Curiosamente, existe uma carta na manga que sempre me faz cair em realidade quando percebo que estou tendendo a fazer isso. Todos nós sofremos. Essa talvez seja uma das verdades que sustentem, para mim, o processo humano. Assim, isso quer dizer que devemos ter respeito e acolhimento com o sofrimento do outro até porque ao fazermos isso, o nosso sofrimento não é invalidado. Também, ao ouvirmos, podemos trazer luz para aquele que tem o emocional ligado à situação, trazendo a pessoa para outras direções, fator que torna o nosso (ou vários) ponto de vista importante. Além de que só de sermos capazes de legitimar o sofrimento quando nos dispomos a ouvir (que fique claro, sofrimento é diferente de drama) isso já ajuda em muito a pessoa ver que há vida além daquilo e que talvez ela esteja criando e intensificando muito o sofrer por não enxergar nada além.
2 - Esse segundo ponto é algo não tão claro. Todos sofremos, o que fazemos com este "sofrer" é o que realmente importa. Sejamos simples, todos, para crescermos, passamos por várias linhas e percepções da dor. Na infância, por exemplo, quando queremos muito um brinquedo e não podemos ter por ser muito caro, frustramo-nos, esperneamos, mas nada fará, naquele instante, aquele brinquedo ser seu. Isto gera sofrimento, não importa se parece bobo ou infantil, ele é um sofrer. O que é feito depois que vai valer. Podemos espernear até nossos pais se irritarem e ganharemos castigos para "aprendermos" que o mundo não gira em torno de nosso umbigo. Logo, o sofrer se tornará maior. Pode-se espernear pelo castigo, fazendo este se intensificar. Em resumo, por insistirmos muito em algo que naquele instante é um "erro" tornamos o nosso sofrer uma imensa sombra de dor e desespero que,eventualmente, tudo se torna esse sofrer.
Entretanto, o mesmo sofrer se bem compreendido pode trazer as mais magníficas mudanças de percepção, atitude e de vida. Afinal, amadurecemos ou por amor (a nós mesmos) ou pela dor. Quando nos damos conta de que nosso sofrimento é um pedido (ou um chamado) por amadurecer é quando de fato estamos prontos para encarar da melhor forma aquilo. Tanto que sofrimentos presentes na infância que duravam em escalas infinitas, agora duram, se compreendidos e de vista consciente, apenas alguns minutos e rapidamente são transformados em outros pensamentos. Por isso, sofrimentos mais velhos ou mais profundos machucam tanto, por representarem um chamado de uma mudança de tempos remotos e longínquos que podem até habitar o esquecido de nossas mentes, mas jamais de nosso comportamento. Entretanto, temer o sofrer é temer inclusive boas mudanças, e aí, não há muito que reclamar (nesse caso é se vitimizar mesmo).
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