Me perdoem falar sobre algo tão complexo e tão intimo. Afinal todos nós nos colocamos diariamente a esperar algo e talvez, por termos a crença de que a "esperança é a ultima que morre", a gente tenha aprendido a colocar isso em primeiro plano. Primeiro plano porque, mesmo na possibilidade da negativa e com a probabilidade de outras coisas rolarem, estamos com isso na nossa janelinha do próximo passo, nem que seja em um modelo de espera. Em primeiro plano, apesar de saber da dificuldade de, às vezes, colocarmos isso em um processo de realidade.
A questão é: é possível não estudar para aquele exame e não ter a expectativa de ter boa nota? É possível se colocar a atravessar uma rua sem de fato querer chegar ao outro lado? É possível se apaixonar, tratar bem a pessoa, e não esperar que ela retribua o carinho? É possível tomar qualquer tipo de ação sem que se deseje que ela, de fato, tenha o fim que imaginamos? Somos capazes de agir, conscientes do que fazemos, sem esperarmos algo de necessário quanto a essas ações?
Possivelmente não. Seria até ilógico tomarmos ações e não termos expectativas quanto ao resultado. No entanto, expectativa pode ter uma conotação negativa, na medida em que mistura esperar com uma cobrança, como explicaremos adiante. Em contrapartida, existe a esperança. Ela se assemelha à expectativa, mas traremos para esse texto um significado distinto daquele do dicionário que nos parece ser mais adequado.
No nosso ponto de vista, “esperança” teria um significado emocional, ela seria um sentimento derivado de nossa capacidade de esperar por algo com paciência. E paciência aqui não tem a ver com receber o que intimamente desejamos por mais que demore, mas estar aberto ao que quer que seja entregue por esse algo. Paciência teria a ver com entender que nem tudo está sob nosso controle, que nem tudo o que vem diferente do que desejamos, no final, é fracasso.
Me recordo do dia em que meu vizinho, uma criança de apenas 4 anos, morreu de câncer. Sua mãe, conhecida devota da igreja que frequentava, tentava acalmar os outros familiares, com a resiliência típica daqueles que sabem quem nem tudo está sob seu controle e que, por isso, lidam melhor com as frustrações. Nesse ponto, boa parte das pessoas de grande fé religiosa nos ensinam grande lição, porque têm muito claro que sua vontade nem sempre é a melhor, ou a que trará melhores frutos. Eles têm esperança, mas criam poucas expectativas por acreditarem que as coisas são regidas por uma força maior que sempre escolhe o que é melhor para elas.
De fato, somos seres com enorme capacidade de nos adaptarmos a qualquer que seja o final da história, uns com mais ou menos dificuldade. Só que também estamos extremamente apegados ao julgamento do que é bom ou ruim para nós mesmos. Acabamos nos cobrando demais. Acabamos criando as expectativas.
Como dissemos antes, a expectativa vem impregnada do significado de cobrança. E a cobrança vem da exigência de reciprocidade: nós damos, mas sentimos que devemos ter algo em troca. E é aqui que mora nosso problema. Criamos em vida uma percepção sobre o mundo e estamos tão cercados de cobranças, que acabamos criando as nossas próprias exigências. E por que a cobrança seria o problema da expectativa? Diferente da pureza da esperança, a expectativa cria uma dinâmica de dureza. Ela cobra algo, em algum lugar, em algum tamanho específico. Ela tende a ser frustrante justamente porque cobrar não quer dizer obter qualquer resultado.
Assim, não há nada que evite que desejemos a aprovação naquele concurso, ou chegar são e salvo do outro lado da rua, ou receber um “eu também te amo”. O que temos que aprender para evitar as tão faladas frustrações é que não podemos controlar os resultados simplesmente porque realizamos algo que, em nossas mentes, tem um único final possível. Aprender a enxergar que nada realmente pode ser controlado abre o precedente de algumas coisas e de várias verdades, que talvez, por dureza ou não ensinamento durante a vida, não fomos capazes de aceitar. E quando falamos isso, estamos nos referindo à nossa capacidade de acolher sem esperar necessariamente daqueles que foram acolhidos. De entregar-se sem necessariamente esperar o retorno disso. Mas jamais deixar de nos permear. É algo entre a mistura poética de dar sem cobrar, de ser aceitando-se e não permitindo invasões, mas sim, relações (até por sabermos que ninguém aqui precisa ser santo, mas que temos que dar ao mundo o nosso contínuo melhor). De perceber aonde nossas expectativas ou nossas esperanças nos levam. De saber associar-se e assim tentar se purificar com tudo isso aprendendo, de verdade, que todo final possível vai ser bem vindo, bem recebido e melhor aceito.
(Esse texto foi escrito em conjunto com uma inteligentíssima amiga, a querida Mariana Mateus. Obrigado Mari pela ajuda.)
Me recordo do dia em que meu vizinho, uma criança de apenas 4 anos, morreu de câncer. Sua mãe, conhecida devota da igreja que frequentava, tentava acalmar os outros familiares, com a resiliência típica daqueles que sabem quem nem tudo está sob seu controle e que, por isso, lidam melhor com as frustrações. Nesse ponto, boa parte das pessoas de grande fé religiosa nos ensinam grande lição, porque têm muito claro que sua vontade nem sempre é a melhor, ou a que trará melhores frutos. Eles têm esperança, mas criam poucas expectativas por acreditarem que as coisas são regidas por uma força maior que sempre escolhe o que é melhor para elas.
De fato, somos seres com enorme capacidade de nos adaptarmos a qualquer que seja o final da história, uns com mais ou menos dificuldade. Só que também estamos extremamente apegados ao julgamento do que é bom ou ruim para nós mesmos. Acabamos nos cobrando demais. Acabamos criando as expectativas.
Como dissemos antes, a expectativa vem impregnada do significado de cobrança. E a cobrança vem da exigência de reciprocidade: nós damos, mas sentimos que devemos ter algo em troca. E é aqui que mora nosso problema. Criamos em vida uma percepção sobre o mundo e estamos tão cercados de cobranças, que acabamos criando as nossas próprias exigências. E por que a cobrança seria o problema da expectativa? Diferente da pureza da esperança, a expectativa cria uma dinâmica de dureza. Ela cobra algo, em algum lugar, em algum tamanho específico. Ela tende a ser frustrante justamente porque cobrar não quer dizer obter qualquer resultado.
Assim, não há nada que evite que desejemos a aprovação naquele concurso, ou chegar são e salvo do outro lado da rua, ou receber um “eu também te amo”. O que temos que aprender para evitar as tão faladas frustrações é que não podemos controlar os resultados simplesmente porque realizamos algo que, em nossas mentes, tem um único final possível. Aprender a enxergar que nada realmente pode ser controlado abre o precedente de algumas coisas e de várias verdades, que talvez, por dureza ou não ensinamento durante a vida, não fomos capazes de aceitar. E quando falamos isso, estamos nos referindo à nossa capacidade de acolher sem esperar necessariamente daqueles que foram acolhidos. De entregar-se sem necessariamente esperar o retorno disso. Mas jamais deixar de nos permear. É algo entre a mistura poética de dar sem cobrar, de ser aceitando-se e não permitindo invasões, mas sim, relações (até por sabermos que ninguém aqui precisa ser santo, mas que temos que dar ao mundo o nosso contínuo melhor). De perceber aonde nossas expectativas ou nossas esperanças nos levam. De saber associar-se e assim tentar se purificar com tudo isso aprendendo, de verdade, que todo final possível vai ser bem vindo, bem recebido e melhor aceito.
(Esse texto foi escrito em conjunto com uma inteligentíssima amiga, a querida Mariana Mateus. Obrigado Mari pela ajuda.)
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