Thursday, September 26, 2013

Sendo Humano

Uma das frases soltas de grandes pensadores que adorei para minha vida é "seja a mudança que você quer ver no mundo", para mim, ela representa o que caberia a cada pessoa, o máximo de ser um bom humano, mas sabe de uma coisa, acho que preferia a meta pessoal de me tornar o super-homem aprimorado e sem o ponto fraco da criptonita.

Como já disse em alguns textos, estou em constante autoanálise, pois sempre achei isso importante, até porque em algum momento, enquanto criança, percebi que pessoas ao meu redor reclamavam dos outros em atitudes banais que os mesmos também faziam. Claro, está sendo a minha escola, foi o que aprendi e assim também estou neste pacote, mas desde então comecei a observar muito que as pessoas falam dos outros se esquecendo de olhar para si e para as próprias atitudes sem sequer analisar de fato o que fazem. Pode parecer um discurso chato, repetitivo e cansativo, mas ele tem que ser feito. Querendo ou não, quando reclamamos da vida, temos que entender e interpretar os sinais que mandamos para fora do nosso umbigo para compreendermos se o que estamos recebendo é condizente com aquilo que está sendo enviado. Acontece que, para mim, a crença do Universo como fonte do poço de energia da qual podemos pedir e "receberemos" em retorno é retratada com a condição de que no fundo as pessoas que nos cercam são responsáveis, consciente ou inconscientemente, em ajudar nisso. Quando tratamos bem aquelas que ali estão para receber aquela energia, elas nos encaminham para um caminho aonde as coisas que desejamos sejam possíveis e desejáveis. De um jeito ou de outro, fazer bem, ou fazer o bem, é algo que é de fato humano.

O que leva a outro ponto. Já percebeu que quando as pessoas estão em sofrimento, elas são bem babacas?

Curiosamente, um bom exemplo disso é o fim das relações. Geralmente, esses fins acontecem de forma que várias coisas estão colapsando ao mesmo tempo, seja interna ou externamente. Assim, sem muito tempo para poder refletir com calma e carinho sobre essas coisas, as pessoas descontam, dentro do seu super mar de movimentos, naquela pessoa que teoricamente estaria ali para um apoio e esse apoio não é encontrado. No fim, temos a velha questão de que em 99% dos casos, todo fim revela um grande babaca de cada pessoa. Até porque temos tantos sentimentos sendo colocados em frangalhos que no final disso tudo melhor lidar com apenas o nosso buraco, do que com os vários buracos alheios. Afastamos-nos, cortamos relações e movimentações e, em especial, nos tornamos extremamente frios ou repulsivos às coisas daquela pessoa que tivemos uma relação e uma grande intimidade por tempos e nisso nos perdemos bastante. Como não aprendemos a lidar com fins, quando ele vem, muito de nós se perde em confusão. Dor, raiva, amor, saudades e medo se confundem de forma tão primitiva, que parece que tudo é um só pacote de sensações e sentimentos. Nisso, nos afastamos e aquela pessoa gera tantos movimentos a nós que praticamente a culpamos por todos os erros, problemas e processos em nossas vidas. Tolo aquele que não percebe, em algum momento, que muito veio de si e, com tudo o que foi dito, retorna ao começo.

Se ser alguém melhor para poder servir de ponto de mudança ao mundo ao nosso redor é saber lidar de forma compreensiva com as pessoas que estão ao nosso lado, que amamos, que construímos intimidade, e sabermos conversar e comunicar toda a nossa confusa movimentação emocional, mas também sabermos tratar a todos que nos recorrem e continuamente abaixarmos o nosso egoísmo para poder sermos mais conscientes sobre os alheios e suas dores e assim sermos mais prestativos, temos que saber o espaço que ocupamos com as nossas dores e nossos temores. Senão, nos tornamos monstros sociais e até mesmos rebeldes sem causa. Coloco uma frase que surgiu em meio a uma conversa com uma pessoa bastante querida "mas também estou meio acreditando que personalidades são fragmentadas demais pra explicações...", por mais que exista uma grande força que concorde em mim com toda essa frase, sempre acho que pode haver um grande respaldo racional para que mesmo sem explicações de nossas personalidades ou de fórmulas para como vivemos, ao menos um pouco de trilhos é interessante. E nisso, nos trilhos, é que podemos nos transformar naquilo que queremos exemplificar como possível, e assim quem sabe sermos mais humanos ou um melhor exemplo daquilo que almejamos como humanos. Porque, no fundo, ninguém sabe ao certo o que é ser um humano, mas sabemos que, ruim, não deve ser.

Thursday, August 29, 2013

Umbilical

Nasci sem qualquer habilidade especial e, hoje, digo isso do jeito mais libertador de todos. Não pense que me faço de vítima frente a tal afirmação, simplesmente aceitei a minha condição e isso se tornou extremamente libertador. Por anos me culpei por não ser um bom desenhista, compositor, baterista ou escritor. Sofri por não ter qualquer habilidade além do comum, em meus movimentos sexuais, meus momentos afetivos, meus momentos de leitura ou minhas teorizações tão insistentes. Já abdiquei de sonhos por perceber que não seria capaz de replicar aquilo que, talvez, minha família insistisse tanto... Por isso, tão libertador.

Antes mesmos de nascermos, todos estamos conectados, acolhidos e apegados. Mães e pais projetam, falam, comunicam a nós e ao mundo o que desejam transferir, ensinar e passar para seus filhos (nós, no caso). Todos passamos por isso, todos estivemos nisso, todos podemos repetir isso, mas quando de fato colocamos as coisas em ordem disso, no fundo, nunca saímos dessa relação. Nascemos e nos distanciamos realmente daquele calor, logo nos cortam o cordão umbilical, mas não deixamos de estar conectados e apegados àquela ideia tão feita sobre como reproduziríamos o todo do ensinamento que, antes de sentirmos o primeiro vento penetrando nossos pulmões, foi planejado. Nisso, vivemos com uma mistura em vida tão complexa e paradoxal que acho que por algum motivo, para mim, está associado ao nosso umbigo. Por isso, somos criaturas tão umbilicais e acho, agora, que se Adão e Eva não tinham umbigo a sorte era essa. Saber que ao olhar para sua barriga, não há qualquer sinal, furo ou lembrete da dor que é existir e ao mesmo tempo do orgulho que se deve ter daquele vale que coexiste com a massa da barriga.

Orgulho porque vivemos tão maravilhados com o brilho que essa depressão produz que somos incapazes de entender o porquê ainda temos tantos de nós presos a isso. Assuma quando foi a última vez que saiu de casa e não reclamou que os efeitos das vidas de cada um pode afetar a sua, seja aquela pessoa que insiste em parar 5 minutos numa pressa emergencial numa vaga para deficiente ou aquele que simplesmente parece ignorar ou até se achar mais esperto as regras sociais de bom convívio. Existimos em uma clara auto-ilusão pessoal de cada quadrado que tende a favorecer sob qualquer micro causa ou desfavorecer sobre qualquer fator aquilo que temos ou conquistamos.
Agora, encarando mais a fundo essa profundeza abdominal, vemos que nosso umbigo representa um antigo laço da alimentação que a nós era entregue por nossas mães e que misteriosamente nunca deixou seu espaço, seja no físico de nosso corpo, seja no ideal de nossas mentes, afinal muitos vivemos presos a ele e talvez por isso, muitos ainda o mantenham coroado.

Há uma contínua masturbação com a relação dos umbigos, aprendemos muitas habilidades em vida, caminhar, escrever, ler, conversar, sentir, e todos estamos presos a elas. Mas quando as habilidades se tornam "premiadas" de alguma forma, por vezes, sob a ótica do portador é vivida uma síndrome de problemas dados ao poderio da nomeação à realeza destes. Problema todo esse porque o peso da coroa que se é capaz de carregar junto do umbigo é sempre dobrado ao espaço que ela ocupa. Por isso, a necessidade de que a coroa de cada brilhe mais que a coroa do outro. Assim, aprendemos a desqualificar aqueles que nos cercam e por aprendermos que precisamos nos afirmar e nos colocar frente aos outros, de qualquer jeito ou forma. Vivemos a desconfiar de elogios, a descreditar e sermos super exigentes conosco e a nos colocar numa malha de insistências tão profundas que temos dificuldade, inclusive, de tentar coisas diferentes para alcançar méritos já desconhecidos, mas desejados. Vemos e vivemos isso com tanta clareza que algumas pessoas existem, como que num eterno ciclo, presas a um único feito em vida, como se aquilo trouxesse à realidade, todo o poder para o qual tenha nascido, todo o porquê da alimentação e desconexão umbilical realizada. Nisso, há uma contínua batalha, porque o brilho da coroa dói, massacra e nos encara a uma realidade de que, talvez, melhor fosse que não houvesse ali o furo.

Na medida em que tento deslocar a minha coroa para fora do umbigo, vejo o quanto mais eu consigo admirar aqueles ao meu redor e todas as suas maravilhosas e únicas habilidades. Tenho amigos que são maravilhosos desenhistas, conhecidos de certa proximidade que cantam lindas canções, tocam de forma promissora, vejo amigos que começaram por uma piada a tocar bateria que se tornaram referencia. Tenho admirado as boas habilidades de negociação daqueles que me provam que, mesmo com toda a incapacidade de fala, se ajustam melhor que se falasse e justificassem tanto. Vejo minhas irmãs e minha mãe com todo o mar da inteligência que elas se embebedam e a capacidade com que absorvem aquela realidade e que, por vezes, se perdem, mas ainda na graça do que se provam a fazer. Consegui presenciar casais que me mostram diariamente, com toda a sua imperfeição, o quão conseguem se manter realistas, felizes e em conjunto. E da benção que é o meu convívio a gênios de realidades variadas e que conseguem manter uma habilidade social invejável e posso nomear a grande realidade que tenho buscado encarar de ver além de da minha coroa ou de meu centro e mesmo admirando tudo isso, vejo que não há qualquer habilidade que se sobressaia em mim, o que me torna um maravilhoso medíocre sobre aquilo que consigo existir. Afinal, nada mais normal que acessar o comum, permear o comum e se admirar em felicidade ao comum.

Como disse a uma querida pessoa, algo que tenho há dias pensado, "Temos vivido de forma tão rápida que a emergência com quem continuamos a ignorar as coisas pela nossa dor e nosso brilho umbilical, só nos leva a ficarmos perdidos." Talvez, a liberdade seja o desaparecer do umbigo e tornarmos mais cardíacos e menos umbilicais.

Friday, August 23, 2013

Inútil

Se existe algo mais inútil que a culpa, por favor, me mostrem. Sejamos realistas, ok? Passamos anos de nossas vidas presos a culpas nossas e alimentando culpas alheias, como desculpas para não vivermos plenamente as nossas coisas e nos movimentando sempre com algo relativamente faltoso. Acho que nunca, de fato, aprendemos a sermos nós mesmos pelo imenso tamanho da caixa que nossa culpa ocupa e para piorar tudo isso, a caixa da culpa está sempre cheia e com isso não percebemos que culparmos os outros são fugas dos derradeiros fardos de nossas próprias culpas, logo, a culpa para com os outros e a nossa, no fundo, são a mesma coisa.

Deixa-me tentar mostrar porque sinto e penso isso. Por anos, eu percebia (e ainda percebo) em muitos amigos, e até mesmo em mim, um grande processo de culpar os pais e as mães por muitos dos ocorridos em que se tinha uma clara dificuldade. Poucos de fato reconheciam valores a si e em seus pais, mas a questão de culpar a geração anterior se fazia mais ativa. Claramente, muitos reconheciam traumas de formas dramáticas e selecionadas para justificar alguns processos e, em especial, para colocar as dificuldades em cima de um pedestal do inalcançável ou do "alcançável-desde-de-que" o que ninguém ou praticamente ninguém reconhecia era o esforço para criar a si. Por vezes, acho que nos esquecíamos do posicionamento de não perfeição de nossos pais, para cobrar-lhes isso, esquecíamos mais ainda da nossa longínqua proximidade à utopia para cobrar isso de nossos pais e mães, mas sempre usávamos isso de escudo. Vivíamos com a sombra dos defeitos dos nossos (as) responsáveis e ainda nos achávamos o máximo de vermos isso e sempre terminarmos com o velho jargão da dotada arrogância adolescente e adulta, "jamais serei assim". O problema é que ao ignorarmos por completo a possibilidade de vermos isso em nós mesmos, mais replicávamos a culpa que colocávamos nas nossas mães e pais para frente e mais igual nos tornávamos.

Quem nunca namorou ou se relacionou de forma visceral ao arquétipo da sombra de algum (uma) dos (as) responsáveis que atire a primeira pedra. Ao crescermos, se vivermos sob a sombra dos nossos progenitores, não procurando mudar o ângulo de visão para encontrar criaturas equilibradas (pais e mães com defeitos e qualidade) tendemos a reproduzir de forma tão visceral que nem questionamos aquilo que está de fato sendo feito. A escola daqueles que nos criam pode parecer invisível a alguns momentos e até anos, mas ela é mais e melhor sedimentada que um bom professor de artes marciais que faz seus discípulos, inclusive, sonharem com seu mestre em momentos de dor. Se não observarmos com cautela, aquela culpa que a sua mãe sempre teve, sob seus olhos, por ter te colocado de castigo num momento errado, vai fazer você colocar de castigo outras pessoas ao seu redor por motivos tão errados quanto pelo simples processo de repetição. Enquanto sua mãe e/ou seu pai não forem humanos aos olhos que se dá a eles, com todas as possibilidades de erro, de acerto e de compaixão, as coisas permanecem difíceis, se sua própria arrogância de perfeição desejada for sempre maior, será aquele que carrega mais culpa, mais fardo para frente e o pior disso tudo é que essa culpa de nada vai servir na sua vida. Ela será sempre um enorme peso morto simplesmente sendo carregado com você a todos os lugares e, claramente, atrapalhando a vida.

Aprender a olhar para nossas mães e pais e reconhecermos neles a nós mesmos, com todos os defeitos e qualidades, cria possibilidades para nos tornarmos melhores adultos, assumindo de fato quem somos, o que temos e o que queremos. Incluindo nesse enorme pacote uma grande redução da nossa inabilidade em alguns feitos deles, que sem querer repetimos, mas que ainda temos o poder de não repetir. Assumir isso faz com que de fato reduzamos aquelas velhas "jamais serei assim" de um jeito mais consciente e menos birrento. Afinal, quando somos capazes de ter compaixão com os nossas mães e pais, avós e avôs, tios e tias, e quaisquer responsáveis, assumimos que muito do que foi aprendido não precisa ser repetido de forma impensada e que as dificuldades que eles, sem querer, passaram para frente e nós carregamos se tornaram outras. Assumir que culpar eles por suas dificuldades e por alguns possíveis traumas causados e que nossa vida não é de outro jeito não leva a lugar algum senão a dor e não reconhecimento de nenhum dos dois lados. Entretanto, assumir que podemos perdoá-los por não serem perfeitos como gostaríamos, que apesar de suas dificuldades podemos amar e abdicar do nosso traumático e infantil antigo reconhecimento, faz com que nossas cicatrizes sejam superadas por nossa própria força, afinal, ninguém quebra um padrão de repetição se não tem compreensão sobre o mesmo, encarar isso como adulto, sem culpa, faz sairmos desse padrão de erros mais antigos que os primogênitos dos nossos primogênitos.

Saibamos mostrar de um jeito diferente do aprendido para com as pessoas responsáveis, de forma carinhosa e não rancorosa, outras possibilidades de um mesmo antigo feito ou padrão familiar, torna o nosso feito mais valoroso e mais bonito. Torna nossa vida mais adulta, pertinente e menos reativa. Uma vida menos reativa é uma vida com mais energia sobrando, afinal, a culpa foi abdicada e toda força usada para carregar ela pode agora, de fato, ser usada de forma transformadora.

Wednesday, August 21, 2013

Para mim, eu.

Reconheço minha clara dificuldade em aceitar a realidade e também ao meu próprio espaço por simplesmente recusar a realidade. Estranho falar isso assim, mas há pouco tempo tenho aprendido que aceitar a realidade constitui de primeiro aceitar a si estando nela. De alguma forma, não aceitar estar nela me fazia encontrar muito de mim em um plano perfeito de existência que não me dava o real de mim.

Existe algo em nós que vai além do ego e por qualquer motivo que seja ou se sinta isso, é realmente gratificante. Acessar isso é realmente bom. Pense um pouco e se responda, quando foi a última vez que se sentir você foi algo que não lhe pareceu nem pedante e nem ruim?

Parece que atualmente ser a si é pedante, e de fato o é, se para isso precisamos impor ser isso. Se o próprio espaço, regras, limites e verdades necessariamente precisam ser maiores que a dos outros. Se a rejeição que continuamente é aplicada às regras dos outros são colocadas de forma prioritária para você se sinta bem. Se só e somente quando alguém acessa a vida da mesma forma que a estrutura de pensamento aplicada a esta, torna a pessoa boa ou realmente legal, caso contrário, ela simplesmente não é tão legal assim e talvez não muito merecedora do meu eu, do meu esforço e assim sendo da minha pessoa, aí sim, ser a si é pedante, é arrogante.

Mas para alguém ser a si pode ser extremamente ruim, opressor e de certa forma vergonhoso e não, não falo da questão desta ser necessariamente uma pessoa ruim, só que ela sente que gostaria de ser qualquer pessoa, que não ela mesma, por sentir que o próprio espaço, regras, limites e verdades sejam, de alguma forma, desnecessárias ou ruins, que verdades alheias sejam mais interessantes, que suas necessidades sejam apenas uma manutenção do espaço e que o mundo não reserve além de algumas pequenas migalhas para ela em nível de uma boa vida, rejeita a si e procura no mundo uma satisfação que talvez nunca venha, por não se querer de fato a satisfação.
Entretanto, para nós, o processo de ligação à realidade se dá muito na conexão do que vemos e de como vemos. Aprendemos que as pessoas que rejeitam aos outros de alguma forma, sabem bem o que querem e assim possuem uma boa autoestima, e aqueles que rejeitam a si tem uma má autoestima. Aprendemos isso quando vemos que algumas pessoas são simplesmente colocadas como de "gênio forte" e recebem por algum motivo um tratamento especial como se a estima delas valesse mais que a de outros e pessoas mais apáticas, pessoas que se questionam e questionam muito o espaço que as cerca, que rejeitam elogios por verem uma realidade diferente, são pessoas mais fracas e assim possuem uma baixa estima. O problema é que nisso criamos monstros sociais sempre presos a uma questão ilusória de "estimas" aonde, no fundo, pouco realmente é ensinado sobre isso. Aprendemos que uns nascem para serem fortes e outros para serem fracos e vivemos nessa grande guerra natural que de natural nada de fato tem. 

Esquecemos, ou talvez nunca aprendemos, que ser a si é saber que é possível ter espaço, ideias, pensamentos e jeitos, sem questionar o que o outro tem. Colocamos a nossa rejeição ou contra os outros ou contra nós mesmos e vivemos de forma que isso pareça ser aceitável. Ter espaço e ser a si é perceber que aceitar as diferentes ideias dos outros e trocar com os mesmos em nada constitui ter que mudar para mais perto ou mais distante daqueles ideais. Não existe a necessidade de impor nada e nem de rejeitar nada.
Passamos pela vida vendo e recebendo imposições, como se existisse uma clara superioridade entre uns e outros e um aceite dessa superioridade. Vemos pais, mães, chefes, namoradxs, amigxs que vivem nisso. Uns impõe a ordem, ser a si é um problema, e os outros aceitam. Só que esquecemos que se criarmos esse ciclo, sempre estaremos presos a ele. Porque se aqui se é superior, ali, pode-se ser inferior e para quem sempre se sentiu rei, sentir-se algo que não rei se faz perder muito daquilo que se conquistou e aí se volta a uma rejeição.
Aprendemos que espaço é aquilo que impomos sobre os outros, mas com qual finalidade? Ter nossos desejos atendidos? Não seria melhor ter os desejos atendidos num panorama de igualdade?

Nisso, no quanto eu consigo colocar o meu espaço, com segurança em mim, me sentindo bem e sentindo que consigo ouvir o outro, sem me mover a impor nada, tem estado a minha autoconfiança e minha estima. Ninguém vai viver pelas verdades alheias para sempre, as próprias tem que sair em algum momento e de alguma forma, acreditamos que quem gritar mais alto é quem vai ser o mais ouvido, ou quem espalhar mais rápido uma notícia será o seguido. Mas ambas as expressões não passam de um medo em crescimento com um pedido rápido e de forma opaca por aprovação externa, e não representa uma boa autoestima. Assim, como simplesmente aceitar a verdade externa com medo do conflito, medo de ser diferente e viver de forma a respeitar o mesmo ambiente, mas com pensamentos que podem ir à oposição (dentro do limite, óbvio). Começar a observar isso faz com que caiamos na nossa necessidade de ter aprovação para podermos seguir, mas porque essa aprovação pesa tanto, se todos somos dotados de poder de discernimento e se o respeito ao espaço do outro deve ser de um tamanho equivalendo ao respeito ao próprio espaço.

Para mim, o meu espaço tem ficado entre os perdões, o autoperdão e o perdão ao outro, considerando ainda que o perdão não fique entre a humilhação de assumir um erro e pedir por uma compreensão disso, e nem a necessidade de que preciso estar pedindo perdão para poder viver a vida e expressar minhas vontades. Respeitar as características (qualidades e defeitos) que cada um carrega é inclusive respeitar as características que se é e isso é autoestima, por não ser dotada de medo qualquer para guiar apenas o eu.

Friday, August 9, 2013

...do abdicar e do tempo.

Há muito tempo a sociedade conhece a história de agir em prol de um medo qualquer por uma certeza futura, e no final de tudo, de todo esforço e toda luta contra este medo, o futuro já aguardado se confirmar em certeza. O mito de Cronos deixa bastante exposta esta realidade.Cronos (mito grego, o romano virou Saturno) um titã que temia ser destronado e por isso devorava os filhos. Pelo medo de perder o suposto poder fez uma das coisas que, para sua esposa Reia e vários outros titãs/deuses, claramente representava uma atrocidade. Mas, como seu medo era maior, manteve-se na crença de que se agisse em prol dele, controlando ao máximo as variáveis que julgava ser possíveis de controle em relação a isto, acaba por ser enganado por Reia e Zeus, seu filho mais novo é salvo e trocado por uma pedra. Ao ponto que Zeus, ao crescer, se junta e destrona o pai. Nisto, percebemos com clareza que todo o medo e toda energia gasta por Cronos para permanecer com o seu poder foi exatamente o que fez com que este fosse destronado.


Afinal, se tivesse agido de forma racional e emotivamente coerente, teria trabalhado o medo e não agido de forma passional a ele. Relacionando-se com o presente, o mito ganha uma força adicional de, inclusive, percebermos que várias das histórias que se passam ao nosso redor são construídas com a mesma base. Veja, por exemplo, o episódio III de Star Wars e você verá que o nascimento do Darth Vader se faz com a clara percepção futura do medo de fazer a princesa sofrer e morrer. Quando Anakin age com toda sua força para evitar a visão que teve, é automaticamente transportado para ela. Assim, de tanto evitar, acabou causando.


Trazendo o milenar mito para a nossa vida contemporânea, vemos o quanto nada aprendemos mesmo com vários possíveis dicionários sobre alguns percursos da vida. Vejo diariamente, tanto em mim quanto em amigos, o quanto nos esforçamos em prol de um medo, acreditando que se ele for o centro da nossa atenção, não deixaremos que ele nos atinja, mas no final, estamos nos movendo em direção à ele. Tornamo-nos rápidos especialistas, alteramos nosso estado de ser e muito é movido contra e não a nosso favor, com isso, temos várias situações criadas a partir de nossos medos, tornando-nos nossos maiores monstros e com isso sofremos as consequências de sermos, mundo à fora, exatamente estes monstros, em sua forma crescida e alimentada e confusa. Muito do sentimento do medo acaba associado à própria identidade e esta pode estar sendo colocada em risco, na cabeça da pessoa. Nisto o abdicar entra como uma ferramenta de emergência sobre a situação da própria identidade e da situação. 

Da identidade, porque quando percebemos de fato o que somos e que no fundo estamos inseguros, nesse estado acabamos por realizar uma dor sobre nós mesmos e para dar a segurança de volta ao processo é necessário estar apto a perder. Esta perda, tem que ser de forma consciente, de forma a que você abdique por amor a si, assumindo que não precisa carregar o fardo da questão.


Da situação, porque muitas situações geradas pelo medo, são situações que levam as pessoas uma obsessão clara de que nada, pode sair do seu controle e qualquer coisa que aconteça, será ruim. Nisso desprende-se de muita para tender manter o tal "controle" em ordem e funcionamento. Por isso, pessoas que escolhem deixar as situações acontecerem e quando de fato são colocadas em conflito, seja por uma pergunta direta, seja por uma relação de entendimento trocado ou qualquer coisa que o valha, conseguem ter mais lógica de raciocínio, ao invés de simplesmente reagirem à algo detendo assim a capacidade de recriar ou criar de fato, a própria história. 


Criemos a possibilidade de refazermos nossos mitos. Imagine se Cronos tivesse a possibilidade de refazer. Provavelmente, teria sido um pai amoroso e dedicado poderia mostrar a relação de algumas questões de forma sincera aos filhos, mostrando que não é errado sentir medo, frustrar-se e qualquer além, poderia escolher abdicar o trono e passar a vez a quem julgasse ser mais íntegro dos que gerou. Afinal, combater medo com compreensão mostra o quão nosso coração ainda se mantém capaz de ser e mostra o quão ainda conseguimos acolher (a nós e aos outros) e esse acolhimento é o abdicar do controle do medo. E nada melhor para sairmos do nosso caminho de medo com um pouco de amor e acolhimento. Ninguém nunca será fraco por reconhecer e ter um medo (até porque todos nós temos), mas torna-se mais forte aquele que procura não viver por ele e mais ainda aquele que sabe a hora de abdicar para não chegar ao ponto final.

Como disse uma amiga: "Desapego do soltar, entregar, deixar ir, deixar partir, fluir, viver no presente, sem o peso do passado, sem expectativas para o futuro, saber de nossa finitude, saber que somos passageiros, sem posses, sem medos, sem culpa."


Wednesday, August 7, 2013

Do tempo e do abdicar...

Acredito muito que cada um de nós tenha limbo emocional. E chamo de limbo por ser aquele ponto que as coisas ficam escuras, perdidas e literalmente infernais sobre os próprios sentimentos que possuímos. Racionalmente temos a clara dificuldade de sair da espiral da dúvida e ainda acabamos, geralmente, trocando os pés pelas mãos. Nisso, várias situações que facilmente seriam resolvidas por uma fácil e digestível conclusão, se tornam novelas emocionais que mesmo, às vezes, durando algumas horas, pesam e doem como se durassem, literalmente, uma eternidade. Quanto a este limbo, acredito que cada um vá ter o seu e que pessoalmente devemos buscar formas de encarar isso.

Eu, por exemplo, tenho 2 limbos emocionais de percepção clara para mim. Um deles é quando encontro alguma mulher que considero linda (sim, tenho uma questão com beleza, me julguem), afetivamente e intelectualmente compatível. Primeiro, por achar raras as pessoas que aparecem assim em minha vida. Segundo, porque eu sou bastante pragmático ao me envolver afetivamente. Sei que sou extremamente sincero, especialmente com meus sentimentos, e por isso revelo de forma intensa e necessária aquilo que sinto, julgo isso como inocência, mas mesmo quando tento não ser tão inocente me sinto sendo falso e acredito que se aquela me leva a isso, melhor distanciar. Afinal, se não posso ser eu mesmo com aquela que ali se apresenta para mim, melhor não ter nada com aquela pessoa quem sabe, talvez, numa última instancia uma certa amizade. Até porque, convenhamos, depois de tantos anos me questionando tornou extremamente fácil ser cortante, mas extremamente difícil não ser aceito pelo que sou, ou de não viver algo na mesma forma emocional do que sinto.

O outro processo é o claro sentimento de rejeição que construí sobre mim mesmo. Talvez meu terapeuta pudesse falar melhor sobre isso, mas vivi uma vida aonde a seleção não era de fato minha, por algum motivo sempre me permiti ser escolhido (dentro de alguns cenários da vida) e aquelas escolhas por mim feitas se tornaram voláteis, não que não fossem importantes, mas que talvez o peso da escolha me desse mais responsabilidade sobre o processo de ter sido selecionado e esses cenários de fato são bem conhecidos por mim. Onde, claramente, se juntar o 1 com o 2, teremos um processo aonde essa união se cria de forma bastante drástica.

Você pode até se questionar, "por que alguém fala sobre isso tão abertamente?". Porque acredito que seja mais fácil você perceber a estrutura de si quando joga de forma aberta. Acredito que se alguém chegasse para mim e falasse que gostaria da minha amizade por ter tendências suicidas e que ao meu lado se sente confortável, eu aceitaria melhor aquela estrutura sobre todo o processo do que vivo, ao contrário de alguém que se mostra muito maroto e me deixa perceber de forma ativa defeitos com os quais não consigo conviver. Pode não parecer tão transparente, mas para mim é mais fácil aceitar o outro e respeitar quando este sabe de defeitos que carrega de forma bizarra, do que pessoas que vivem uma bolha da beleza, da economia comportamental e da própria dificuldade de aceitação. Por ser uma pessoa extremamente empática, acredito muito que quanto mais eu sinto a vida, mais sou capaz de sentir o outro. Afinal, quanto mais situações passo, mais fácil digerir ou compreender é aquilo que se vive. Por isso, o meu primeiro limbo emocional é tão complicado, porque poucas pessoas entendem ou vivem ou compreendem isso. Quanto ao segundo, que é muito mais palpável as pessoas serem rejeitadas, seja da forma que forem até porque ninguém ensina a lidar com isso de uma forma madura. Nossos primeiros traços de rejeição, seja pelo que forem, começam na infância e com isso a rejeição em si nos leva a esse ambiente tão conhecido.

Então, qual a grande situação disso tudo?

O grande processo aqui trazido é e sempre será do tempo. O tempo, esse mestre tão revelador e a tanto esquecido. Se você pensar com carinho, temos tempo para tudo, menos tempo para refletir sem estar em demanda com algo ou alguém para podermos apaziguar os nossos sentimentos e nos reconstruirmos dentro de um pensamento que está se tornando cíclico devido ao nosso próprio sentimento infantil sobre algo. Por vezes, meu tempo foi um múltiplo de sentar e conversar em várias situações com uma mesma pessoa que considerava tão empática quanto eu e que minimamente me falasse "eu faria isso" ou "você está fazendo isso, talvez seja melhor fazer de outra forma". Claro, que se ficamos muito tempo refletindo num vazio, fazemos desse vazio uma sala de tortura. Por isso, pessoas que estão de férias e em constante situação de não fazer nada sofrem. Sofrem por não darem um tempo para o próprio ciclo de pensamentos que é continuamente construído. E é aqui, para mim, que têm sido apresentados vários insights. Tomar uma decisão, mesmo que dolorida, cabe mais do que encarar uma realidade completamente composta e colocada sobre o meu limbo emocional. A nós, saber que o mundo tem seus movimentos de propósito, cabe a paciência, mas para o nosso ciclo de pensamentos infinito, não há tempo para se torturar. Então, paciência aqui não resolveria muito a questão.

Então, procurar encher a cabeça poderia ser a solução?

Não. Acho que a melhor solução é encarar o ponto da dor com o abdicar. Lembrar que não há situação que seja única e exclusiva na vida e que se for e você a perder, é porque aquilo não faz parte de você, não precisamos de nada que nos adoeça, seja psicologicamente ou seja fisicamente, e talvez realmente seja melhor perder, isso ajuda a lembrarmos que somos humanos, que não precisamos nos robotizar para sempre acertar, até porque na vida erramos muito mais que acertamos e vários desses erros se tornam os acertos que vemos como necessário para uma continuidade de um longo processo e é dentro dessas perdas, falhas e situações que encontramos, talvez, o movimento para tornarmos únicas e exclusivas algumas coisas...

Tuesday, August 6, 2013

Entre estilhaços e projetos...

Há dias eu tenho pensado em algo que me falaram. O curioso é que mesmo que eventualmente eu consiga me deslocar mentalmente para várias outras situações, quando o calor do momento se apaga, eu retorno ao pensamento sem qualquer outra forma de desvio. Chega a ser meio ridículo o quanto consigo ser obsessivo com algumas coisas e, para piorar a citação, ela é muito válida. A frase foi: "Você é o tolerante mais intolerante que conheço".

Por mais que inicialmente parecesse besteira e que a situação se mostrasse simples, ela veio de encontro a um grande momento de questionamento de algumas coisas para mim, sobre mim e o pior, é que me pareceu ser uma das frases mais sinceras que eu ouvi sobre alguma das minhas dificuldades.

Dentro de toda essa situação, percebi algumas coisas de comportamentos pessoais e de pessoas próximas que seus ápices se apresentam em paradoxos de personalidade que trazemos. Chega a ser engraçado, para não dizer trágico, o quão quebrados todos estamos e quão vivemos numa inteireza não existente. Não conseguimos assumir que possuímos sim uma quantidade de medos infantis e que vivemos sob o reflexo de todos, mas nos colocamos a um posicionamento certo, concreto e absoluto, na maioria das vezes, para falar de incertezas. 

Vivemos em busca de questões e desafios, de metas e de aventuras, mas, por vezes, tememos questionar ou abdicar delas, pela energia gasta, pelo orgulho do que foi criado ou por medo de não tentar ir ao máximo, como se toda energia que tivéssemos não pudesse ser desperdiçada.Entretanto, caímos nisso com um risco de várias coisas e que bom que estas existem. Porque elas fazem nós perdermos no nosso próprio processo e porque não dizer no nosso próprio jogo. Pensemos que quando nos determinamos a fazer algo existe apenas a direção e uma energia inicial a movimentar-se com "aquilo". Nisso, sempre travamos conceitos e batalhas contra os outros ou contra nós mesmos em busca de conseguir e conquistar aquilo que gerou essa movimentação inicial. Por vezes, vamos ter a recompensa de fato almejada, mas por outros momentos, talvez maiores que ter o que desejamos, teremos uma situação aonde "perdemos". Perda esta no nosso tabuleiro, nas nossas regras criadas, no nosso espaço escolhido, com a nossa melhor arma e por aí vamos... Esta se dá, em parte, por não unirmos um bom entendimento do projeto ao que planejamos de fato. Perdemos porque desejamos de um jeito estático, robótico, sólido e rochoso que faz parte do nosso desejo enquanto farelo e nisso ganhamos uma possibilidade que pode ir de encontro a uma boa análise clara e nada clássica, de onde observamos um padrão de investimento que temos, que vivemos e sentimos em nossa condição mais evidente enquanto humanos, é a da derrota. Não estou falando que somos derrotados ou sendo derrotista, mas quando estamos no chão, após uma derrota, fica claro ver que perdemos e ver que somos humanos. Basta assumirmos isso, somos humanos, podemos errar, podemos investir errado, mas posso ser um humano mais aceito da minha condição, ou um humano que está sempre num conflito disso, que faz muito ao sacrificar-se por seus próprios erros, por enxergar com tanta clareza toda essa dor e falha, tentar aprimorar na necessidade emergente disso e tornar toda dificuldade um monstro.

Aceitar o processo de que estamos numa grande guerra entre sermos nós, ou sermos um robô, que almejamos perfeição em várias das nossas escolhas, torna menos dolorida a questão de uma possibilidade de erro, e mais fácil o abdicar. Assim, fica mais fácil enxergar os estilhaços e viver de forma a se reconstruir do que de forma a viver como se fosse um inteiro que procura sempre uma forma nova, para poder tentar se reconstruir. É difícil acessar que por muito do que construímos a nós, vivemos numa infinidade de possibilidades de um mesmo quebra-cabeça e que não tem referências de montagem.Temos referência de quebra, porque ainda absorvemos e trazemos muito dos erros e acertos dos nossos pais. Mesmo que detestemos ou ignoremos isso. Aprender a enxergar a quebra de cada um auxilia a abaixar a cabeça e compreender que a nossa demanda por perfeição, de nós e daqueles que nos cercam, está alta demais e que precisamos nos humanizar. Precisamos criar as nossas referências, vermos melhor as quebras e chegar a um consenso, o de que muito se pode desde que projete a uma linha de permissão aonde o erro seja tão acolhido quanto o acerto, de forma que os medos não sejam guias, apenas ajustes. Precisamos aprender a ganhar de forma fluida e contínua o que seria uma derrota sólida e estática.