Das relações mais importantes levadas em vida, a relação com aqueles que nos criam é das mais importantes. Dela temos os principais e primais aprendizados além de alguns vários processos conjuntos (posso citar o "édipo" aqui para facilitar). Entretanto, mesmo com construções assim, ainda nos perdemos nelas. Perceba, crianças não são vasos vazios para enchermos com a nossa pura e simples percepção. Elas já tem um conteúdo em desenvolvimento continuo que se soma a traços de personalidades e aprendizados dos seus tutores e isso é onde em grande parte geram as confusões. Muitas vezes essas "confusões" ganham o título de trauma e assim sendo, uma ferida carregada a vida a fora. Podemos citar a não aceitação da criança, que gera, de forma muito comum, adolescentes que se movimentam contra algo desconsiderando os famosos problemas de conflitos de geração onde todo adolescente é visto como um rebelde sem causa. Se pararmos para observar criteriosamente aquilo que está passando ou parece passar, os jovens ali colocados pedem de forma taxativa aprovação e aceitação daqueles que o tutoraram. Não é muito difícil ver esse padrão, caminhar pela infância, atravessar a adolescência e chegar até nós, já no mundo adulto.
A estrutura da aprovação, é algo que vai do provável ao improvável numa facilidade tão grande quanto a imaginação humana seja capaz, em processos grandiosos ou simples processos diários. Temos pessoas que veem em seus pais, pessoas para quem precisam competir contra ou em relação a algo, num pedido duradouro de aprovação onde ser melhor que os pais o coloca, mesmo que de forma alienada, num lugar onde é capaz de perceber-se como parte da família, ou ainda por cima, que sendo "o vitorioso" este estaria com a sua aprovação enfiada "goela a baixo". Poderíamos ver processos em contínuas relações afetivas, onde a pessoa se relaciona com aquele (arquétipo onde o édipo vai ser maior) de quem sente mais falta ou sente que a aprovação seria uma profunda "salvação". Há também a aprovação dada a distancia, como um pedido desesperado de reestruturar um rumo na vida. Pessoas que saem de casa e se dizem estruturalmente TOTALMENTE distantes e diferentes de seus pais, mas que muitas vezes acessam só um arquétipo oposto não tento tanta diferenciação assim. (Que fique claro, o oposto pode ser realmente muito diferente, mas é uma mesma energia sendo colocada em outra direção de vetor. Um exemplo disso são pais sufocantes que criam uma criança que se torna totalmente desapegada, numa clara visão onde o equilíbrio é a melhor opção, é a mesma "energia" sendo exacerbada a uma direção vetorial oposta). O problema é quando essa aceitação começa a movimentar e reger de formas mais pesadas a vida. Nisso confundimos a aprovação com vários outros sentimentos (necessidade de respeito, de afeto, de compreensão, de concordância ) e não sendo para menos, aprovação dos tutores, por vezes, é algo extremamente complicado de aceitar. Queremos que essa aceitação seja dada de forma escolhida por nós e, às vezes, ela já foi acessada e dada, mas como não veio na embalagem desejada, nos perdemos em confusão pelo todo disso. Um clássico exemplo desse pedido de aprovação é quando levamos nossas(os) namoradas(os) para conhecer nossos pais. Geralmente, sempre tem a pergunta "e aí? o que você achou?"
Quando as escolhas passam por um velho necessário "isso vai ser bom" disfarçado num pedido de qualquer coisa que se aproxime disso, caímos no padrão do vício e isso pode levar a questões tão profundas e doentias quanto qualquer comportamento levado a seus excessos. E para tal saída, resta-nos a percepção de que estamos trilhando algo cíclico que de alguma forma está nos deixando e nos levando sempre na direção da conexão com os que nos criaram.
Assim como em boa parte das relações de construção cíclica, essa relação de pedido de aprovação constante (isso é extremamente profundo e realista, para cada um de nós em cada dinâmica possível a nós mesmos, basta sermos realistas) começa a se perder quando aprendemos a lidar conosco e com a questão de que mesmo com uma clara "reprovação" daquilo que fizemos, o nosso espaço tem que estar em paz. É extremamente complicado viver pedindo aprovação de alguém que não é capaz de aprovar algo que não compreende. Um exemplo disso é a relação de filhos que começam a trabalhar com vínculos de trabalho home-office e ficam em casa trabalhando via internet e para seus pais alegam que aquela "brincadeira" de alguma forma, traz o dinheiro. Pode parecer bobo e até não veiculado, mas já tive amigos próximos que entraram em depressão por situações assim. Afinal, ele sempre teve o pai como modelo mor e esse não compreendia o que ele fazia e assim não o aprovava. A solução veio quando ele viu que não precisava realmente daquela aprovação ou poderia trabalhar com isso. Então, procurou explicar para o pai, sem qualquer sucesso. Decidiu que não iria buscar saber do pai o que ele achava sobre as coisas do trabalho, visto que ele jamais o perguntara sobre o trabalho. Para o meu amigo, a necessidade partia dele. Assim, se ele quebrasse o ciclo, sairia da demanda por aprovação e assim, pararia de cair no ciclo. Ele foi capaz de encarar, algo que poucos percebem, com ou sem a aprovação, que a relação profissional será a mesma, a forma de seu pai tratar-lhe seria igual e por ele perder a necessidade de compartilhar com o pai (sendo este o pedido de aprovação), a relação com seu pai tornou-se mais sadia.
Mesmo com tudo isso, ainda temos uma demanda grande por aprovação, que começa desde cedo, mas que pode ser interrompida à medida que aprendemos a lidar com essa situação. Compreender o porquê de querermos a aprovação, de querermos nos sentir aceitos e de precisarmos disso, faz com que consigamos, ao máximo, agir em prol de nossa própria aceitação de tudo aquilo que é feito por nós, reduzindo os vínculos de parar de pedir aprovações externas e aprender a lidar conosco de maneira mais plena.
Tuesday, March 12, 2013
Tuesday, March 5, 2013
Viciados
Umas das mais impressionantes coisas nas pessoas, para mim, é que nós somos extremamente capazes de escolher a forma e o que nos aflige, mas insistimos em permanecer cegos a isso.
Existe uma tendência em nós, em sofrer por algo na mesma intensidade que lhes damos importância. Uma forma de observar isso são pessoas que possuem algum vício de "fácil leitura", como por exemplo, fumar. Quando a pessoa está ansiosa, ela tende a fumar mais que o normal, ou quando a associação dela em relação ao fumo está em crise (a pessoa fuma em aspectos sociais e está naquele momento se sentindo socialmente deslocada), existe uma tendência de aumento do vício, pois o "sofrer" em relação a esta associação se colocou em crise. Se ela aprendesse claramente sobre o vício, olhar para ele e entender o porque de fumar, provavelmente isso ficaria mais fácil de desassociar o vício de si (apesar do exemplo, ele tem um porém, substâncias químicas afetam MUITO mais intensamente, por mexerem numa função que vai além do só psicológico, mas ainda passa muito pelo psicológico). Entretanto, quando colocamos de forma mais subjetiva, ou vícios menos aparentes, nos deparamos com uma tendência à vitimização que por muitas vezes passa o patético (que fique claro, mesmo passando o patético, todos, absolutamente todos, tendemos a isso).
Muitos de nós, ainda na infância, aprendemos a receber um certo tipo de estímulo a algumas coisas, seja um estimulo por sermos bons em matemática (e isso pode movimentar muita coisa futura em nós) ou por termos sido legais com aquela tia-velha-beijoqueira-que-insiste-em-arrancar-as-suas-bochechas, que ninguém o fazia e ela, por tal movimento, nos dá aquele mega presente de aniversário que nem nossos pais pensaram em dar. O problema disso é que quando saímos da cúpula familiar, isso começa a afetar em vários estágios e boa parte de nós não percebe que esses estímulos tendem a criam um vício, e que este, assim como vários outros, além de não ser uma opção, não é perceptível como vício.
Afinal de contas, uma pessoa que desde nova decide que precisa casar, não é visto como vício ou fuga (pode existir um vício aqui que seria o vício da fuga de conquista das coisas de forma independente, ainda achamos muito saudável isso e vemos como errado quem sai para morar só e constrói a vida assim). Mas quando analisamos nas bases da minúcia, esse "precisar" é muito diferente de um "querer". Infelizmente isso nunca é muito transparente ou claro de forma que facilite a vida. Desconsiderando funções orgânicas, quando "queremos", estamos em nossa função de escolha e quando "precisamos" estamos na nossa função da "não-escolha" e quando perdemos a nossa capacidade de escolher, estamos no vício. Pode parecer meio cartesiano, ou muito extremista, mas em sua maioria, a análise é essa. Escolhemos, achando que não o estamos fazendo, e precisamos na crença de estarmos no poder de escolher.
Colocando em outras formulações imagine aquelas pessoas que pulam de relacionamento em relacionamento. De certa forma, isso pode ser o que a mantém saudável (o que claramente torna isso um vício, afinal, quando você tira a substancia de um drogado, este perde a sua saúde além do comumente esperado). Entretanto, várias pessoas assim, tendem a viver uma única relação com várias. Mesmo que o ex seja fisicamente diferente do atual ou até psicologicamente não aproximado, a pessoa vive a mesma relação, com mesmos erros e percepções. Ela não se permite, de forma alguma, dar uma "desintoxicada" e uma reavaliada antes de se colocar disponível a outras e novas opções. Por isso, pessoas que tem seus momentos e movimentos ligados a um "espaçamento" afetivo, geralmente, quando aparecem em algumas outras e novas relações, já chegam com mais energia. Todos podem representar psicologicamente, para cada ser, uma forma ou um processo. Entretanto, dentro da percepção dos fatos, existe um vício por pessoas. Que, infelizmente, não é visto como problemático, até que a pessoa se manifeste ou se conecte a algo assim.
Assim aprender a observar aqueles que verdadeiramente sintonizam conosco e talvez aprender a enxergar aquela pessoa pelo que ela é, sabendo a muito quem você é, pode ou deseja ser, movimenta construções e relações aonde mesmo não tendendo ao infinito, tendem ao não-vício, à não-doença e a amadurecimentos, inclusive a quebrar o ciclo da nossa própria dor, reduzindo nossa insegurança e nos dando conforto.
Existe uma tendência em nós, em sofrer por algo na mesma intensidade que lhes damos importância. Uma forma de observar isso são pessoas que possuem algum vício de "fácil leitura", como por exemplo, fumar. Quando a pessoa está ansiosa, ela tende a fumar mais que o normal, ou quando a associação dela em relação ao fumo está em crise (a pessoa fuma em aspectos sociais e está naquele momento se sentindo socialmente deslocada), existe uma tendência de aumento do vício, pois o "sofrer" em relação a esta associação se colocou em crise. Se ela aprendesse claramente sobre o vício, olhar para ele e entender o porque de fumar, provavelmente isso ficaria mais fácil de desassociar o vício de si (apesar do exemplo, ele tem um porém, substâncias químicas afetam MUITO mais intensamente, por mexerem numa função que vai além do só psicológico, mas ainda passa muito pelo psicológico). Entretanto, quando colocamos de forma mais subjetiva, ou vícios menos aparentes, nos deparamos com uma tendência à vitimização que por muitas vezes passa o patético (que fique claro, mesmo passando o patético, todos, absolutamente todos, tendemos a isso).
Muitos de nós, ainda na infância, aprendemos a receber um certo tipo de estímulo a algumas coisas, seja um estimulo por sermos bons em matemática (e isso pode movimentar muita coisa futura em nós) ou por termos sido legais com aquela tia-velha-beijoqueira-que-insiste-em-arrancar-as-suas-bochechas, que ninguém o fazia e ela, por tal movimento, nos dá aquele mega presente de aniversário que nem nossos pais pensaram em dar. O problema disso é que quando saímos da cúpula familiar, isso começa a afetar em vários estágios e boa parte de nós não percebe que esses estímulos tendem a criam um vício, e que este, assim como vários outros, além de não ser uma opção, não é perceptível como vício.
Afinal de contas, uma pessoa que desde nova decide que precisa casar, não é visto como vício ou fuga (pode existir um vício aqui que seria o vício da fuga de conquista das coisas de forma independente, ainda achamos muito saudável isso e vemos como errado quem sai para morar só e constrói a vida assim). Mas quando analisamos nas bases da minúcia, esse "precisar" é muito diferente de um "querer". Infelizmente isso nunca é muito transparente ou claro de forma que facilite a vida. Desconsiderando funções orgânicas, quando "queremos", estamos em nossa função de escolha e quando "precisamos" estamos na nossa função da "não-escolha" e quando perdemos a nossa capacidade de escolher, estamos no vício. Pode parecer meio cartesiano, ou muito extremista, mas em sua maioria, a análise é essa. Escolhemos, achando que não o estamos fazendo, e precisamos na crença de estarmos no poder de escolher.
Colocando em outras formulações imagine aquelas pessoas que pulam de relacionamento em relacionamento. De certa forma, isso pode ser o que a mantém saudável (o que claramente torna isso um vício, afinal, quando você tira a substancia de um drogado, este perde a sua saúde além do comumente esperado). Entretanto, várias pessoas assim, tendem a viver uma única relação com várias. Mesmo que o ex seja fisicamente diferente do atual ou até psicologicamente não aproximado, a pessoa vive a mesma relação, com mesmos erros e percepções. Ela não se permite, de forma alguma, dar uma "desintoxicada" e uma reavaliada antes de se colocar disponível a outras e novas opções. Por isso, pessoas que tem seus momentos e movimentos ligados a um "espaçamento" afetivo, geralmente, quando aparecem em algumas outras e novas relações, já chegam com mais energia. Todos podem representar psicologicamente, para cada ser, uma forma ou um processo. Entretanto, dentro da percepção dos fatos, existe um vício por pessoas. Que, infelizmente, não é visto como problemático, até que a pessoa se manifeste ou se conecte a algo assim.
Assim aprender a observar aqueles que verdadeiramente sintonizam conosco e talvez aprender a enxergar aquela pessoa pelo que ela é, sabendo a muito quem você é, pode ou deseja ser, movimenta construções e relações aonde mesmo não tendendo ao infinito, tendem ao não-vício, à não-doença e a amadurecimentos, inclusive a quebrar o ciclo da nossa própria dor, reduzindo nossa insegurança e nos dando conforto.
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