O estranho é que, ao comentar com algumas pessoas, várias ficaram horrorizadas por eu fazer isso. E, pensando mais detalhadamente sobre o assunto, só consigo ver que as pessoas não percebem que estão em guerra.
Ao invés de aprendermos na escola a melhor forma de cada um adquirir conhecimento, somos todos forçados a entrar num sistema único de ensino, onde o que se aprende não é necessariamente medido, mas serve com muita força para nos tornar competitivos. Infantes realmente pequenos já começam a proferir formas e estruturas de competitividade bem pesadas. E para piorar isso, aprendemos a competir com tudo. Competimos para saber quem são mais fortes, mais rápidos, mais bonitos e até mais ricos. Como se de alguma forma, conseguíssemos clareza nas medições. Talvez nessas, tenhamos. Mas à medida que amadurecemos, competimos com a vida, mesmo que sem querer, e entramos aonde poucos realmente se veem. Querermos saber quem é que sofre mais, quem é que ganha mais, quem é que fode mais, quem é que tem mais capacidade de trabalhar sem dormir (competimos com a NOSSA vida, ao reduzirmos drasticamente horas de sono em prol de sermos algo, não necessariamente, melhores) e exemplos jamais faltaram.
O trajeto disso, além da clara autodestruição, é a realidade de ficar numa competição tão grande, que desaprendemos coisas básicas. Como quando as pessoas perdem a clareza e competem com os amigos, quando deveriam ajudá-los, competem com os amores escolhidos e não entendem por que erram tanto e tão constantemente com situações banais. Competem com pai e mãe, pois o erro de percepção desses criam traumas que aquela criança mesmo sendo incapaz de perceber que havia uma boa intenção, não consegue perdoar. Disso, desaprendemos a entender o tempo, por também estarmos sempre competindo com ele. Nossa relação de existência se dá basicamente contra o tempo. Não aprendemos a apreciar as manhãs, comemos rápido, dizemos não ter tempo para trocar afeto, deixamos e abdicamos de pessoas importantes, por criarmos tanta coisa que não cabe naquele tempo. Olhamos para o relógio como se precisássemos correr para algum lugar competir com algo que nos matará mais cedo. Estamos nos tornando pessoas que competem tanto que qualquer carinho ou boa ação gratuita, nos comove além do normal (tanto para o bom como para o mau que há nisso, se é que há algum mau) enquanto elas deveriam ser as atitudes normais. Achamos que vamos ser traídos na competição da vida se pararmos para estender algum desconhecido que cai ou se deixamos a correria de lado para apreciar o encaixe da alma de volta ao corpo durante aquela preguiça ainda na cama ao levantar. Somos monstros devoradores de qualquer capacidade, necessitados por competitividade de um jeito tão bizarro que nos esquecemos de ser os melhores amigos, os melhores amores/amantes e os melhores filhos/parentes. Estamos perdendo a essência do que é ser humano para nos tornarmos máquinas. Estamos tão sem coração que quem chora é fraco, quem fala a sinceridade das emoções é trouxa e quem sente, de todo coração, está perdido.
Talvez precisemos de mais tempo para aprender que mesmo nessa correria merecemos calor e carinho. Merecemos um pouco de paz. Inclusive de nós.